quinta-feira, 10 de maio de 2007

história(s)

Tirei a licenciatura em História.
Mas sempre me entendiaram um pouco a maior parte dos historiadores e as suas histórias.
O que me interessou sempre foi saber o que se escondia por detrás do visível, do acontecimento; qual a teia subjacente que daria a tudo um sentido, um sentido para me compreender a mim e ao mundo de hoje. Os pormenores distraiem-nos do essencial.
Em contrapartida, os filósofos assustaram-me sempre um pouco; porque com facilidade entram numa rede de conceitos que por vezes atinge grande beleza e clareza, mas é como um cristal: só serve para contemplar. Que tem a ver aquilo connosco, todos os dias?
Os sociólogos e economistas, esses, voltados para o presente e para o seu diagnóstico frio, são por vezes extremamente esqueléticos, querendo ser objectivos. Tal como os antropólogos sociais, permitem-nos descentrar-nos das nossas evidências e são úteis. Mas constituem pequenas tribos fechadas, como aliás todas as outras disciplinas e suas especificidades, práticas, congressos, revistas, comunidades. São famílias mais ou menos identificáveis, cada uma, pela sua idiossincrasia.
Por isso os chamados pensadores, ou ensaístas, sempre me atrairam, porque o ensaio é o que está mais próximo do fluxo do pensamento, da vivência e da oralidade. Às vezes pecam por excesso de vontade de originalidade, ou por quererem fazer forçada coerência de uma realidade paradoxal e contraditória.
Enfim, são muito poucos, afinal, os autores de cujos livros se pode dizer: deste não me separo mais. O saber académico compartimentou-nos em especialidades, criou tiques de tribo para cada uma, dividiu-nos uns dos outros.
E, apesar de tudo isto, temos de nos encher de pachorra e de os ler a todos. Na esperança utópica de um dia, se a burocracia e a idade nos derem tempo, escrevermos finalmente o nosso livro, aquele em que atamos os fios uns aos outros e estes à vida. Não para nos enfiarmos dentro desse saco ou teia. Mas para nos servirmos dele como bagagem, assim como quem dá um passo para uma viagem com uma certa segurança como lastro.

Sem comentários: