Foto: L. M.
O olhar não encontra lugar aqui,
Nem o corpo.
É demasiado o brilho, a simultaneidade
Das palmeiras.
A forma como arrancam do chão,
Como se embebem de luz e de cor.
Aqui habitam todos os deuses
Da humanidade,
E circulam, em paz,
Neste espaço cego,
Onde os seus trajectos,
As suas linhas de ar
Sustentam as colunas
Em todas as direcções.
Na circularidade dos compassos;
Na harmonia dos cânticos;
Na erecção dos arcos;
Na extensão veloz dos pavimentos.
Meus Deus, como é possível
Este tecto estar pousado
Acima do mundo
que tu próprio criaste?
Este silêncio embutido
Em silêncio.
Este vazio cheio.
Este movimento terrível
Para cima:
Redenção das redenções,
Ó deserto fresco, nítido,
por onde nos podemos perder,
invisíveis e invisuais,
em todas as direcções.
voj 2007
2 comentários:
Tenho um verdadeiro fascínio pela mesquita de Córdova.
É linda e lindo este poema !
numa certa manhã, muito cedo, visitei-a, faço-o sempre que estou por perto, mas dessa vez, foi especial. Fui recebida com um esplendoroso Cântico Gregoriano, entoado ao vivo, pelos monges!
indimenticabile !
Vou passando por aqui e por Córdova ...
Que sorte!
Acho, a propósito, que a mesquita de Córdova devia ser alterndamente aberta ao culto cristão e muçulmano. Era uma mostra da tolerância religiosa num mundo onde isso seria fundamental. A proposta foi feita, mas não teve aceitação. Foi pena. No meu poema há um subtil (??) eco disso. As igrejas (no sentido de espaços de recolhimento) pertencem aos seres humanos todos, desde que estes as respeitem.
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