quinta-feira, 14 de junho de 2007

seteiras... para tiros no pé

Como se sabe, o Prof. Mário Barroca, da minha faculdade, é um especialista em arquitectura militar medieval (ver uma postagem referente às provas de agregação dele).
É inspirados nessa arquitectura ou afim que certos colegas meus da Pré-história recente cismaram que sítios como Los Millares (Almería, Espanha) e Zambujal (Estremadura portuguesa) - que consideram como tendo uma motivação bsaicamente militar, defensiva, o que lhes dá uma razão para o empenhamento em obras de tão grande vulto numa época "primitiva" - possuiam "seteiras", nome que dão a uma série de "ocos" construídos na parede de estruturas sub-semi circulares, a que vulgarmente, devido à mesma tradição, chamamos "bastiões".
Mas o curioso é que, mesmo em muitos sítios ou sub-estruturas de sítios (chamemos-lhes assim) medievais, como as torres de menagem, se começa a compreender que elas tinham um carácter não só defensivo, como essencialmente simbólico (a imponência); que muitas nem carácer defensivo podiam ter; e que as seteiras, para o ser, teriam de ter determinado espaço associado a cada uma: campo de tiro (espaço onde pudesse estar um homem a disparar) e campo de mira (espaço para onde o qual um homem disparava).
Claro que há que, também aqui, ter em conta a complexidade do assunto.
Mas um arco pré-histórico não era um brinquedo; era um objecto grande. Exigia também ele espaço; e, para ser eficaz, nunca podia ser utilizado de dentro de um "bastião" através de uma "seteira" tipo Millares/Zambujal, para mais havendo uma série de aberturas desse tipo a curta distância umas das outras. A simples hipótese de tal acontecer é do domínio da comicidade, revela ou despoleta humor, para além de mostrar uma enorme falta de senso comum.
Mas Mário Barroca, a quem agradeço que me complete e corrija se tiver paciência, disse também que as torres de menagem dos castelos, dispositivo mais cristão que muçulmano - torres essas que eram essencialmente um dispositivo simbólico, e talvez de observação a distância (imagino eu), o que seria já uma interessante forma de "poder" sobre o território - constituiriam uma autêntica "armadilha para ratos", quer dizer, se o castelo fosse tomado e se um senhor fosse cercado na torre com a sua soldadesca, teria pouca possibilidade de sair de lá vivo.
Também, dentro de uma linha humorística, podíamos pressupor que tais torres (e nós também por analogia falamos de "torres" em sítios monumentais calcolíticos de altura, como Castelo Velho ou Castanheiro doi Vento) poderiam servir para suicídio, dada a altura de algumas...
Estas ridículas concepções funcionalistas não são só ridículas se aplicadas ao passado, mas relevam da mais chã perspectiva das coisas quando aplicadas ao presente: há alguma coisa, alguma arquitectura, estritamente funcional? Então não é qualquer objecto, de um lápis ou caneta, até uma cidade inteira, um dispositico semiológico, polissémico? Meu Deus, por vezes para ver mais claro não é preciso ir buscar lentes sofisticadas, basta limpar dos olhos as ramelas que, persistentemente, não deixam ver o óbvio e que toda a gente já sabe.
Insistir em dogmas é... dar tiros no próprio pé.
A pré-história é um conjunto de mitos. E podia não ser. Noutras postagens irei tentando referir-me, com o humor possível, a muitas ridicularias e histórias de encantar que as pessoas confundem com verdades ou pelo menos verosimilhanças. Aliás, um dos temas mais interessantes para um doutoramento era pegar nas "imagens de recontituição da pré-história" (panfletos, cartazes, a chamada informação para o "grande público") e ver a ideologia subjacente... a que aliás este blog já aludiu de forma discreta, inserindo certas cartazes...
Nas suas provas, o Prof. Mário Barroca prestou homenagem a Carlos Alberto Ferreira de Almeida, que teve como professor no segundo ano do seu curso (variante de arte e arqueologia, na altura, do curso de História), a quem chamou um mestre extraordinário, cativante, que o "levou" para a Idade Média e em particular para a arqueologia medieval. E acrescentou que tinha sido tão fascinado no ano anterior pelas aulas de Pré-história de Susana Oliveira Jorge que pensou seriamente dedicar-se à chamada Pré-história.
Não vou dizer que foi pena que o não tenha feito, porque uma pessoa tem de escolher um caminho e os outros de respeitar essa escolha. Mas, dedicando-se às fortificações medievais, em toda a sua complexidade e polissemia, aquele autor também nos ajuda a pensar outros campos e outras matérias. Um bom produto do conhecimento é sempre um valor transponível para outros campos de pesquisa. O que nos falta em Portugal são muitos bons produtos e muitas pessoas que sejam capazes de fazer essas transposições, o que às vezes, a partir de uma investigação e reflexão sérias, é apenas constatar o óbvio.
Por isso, certos estudiosos da pré-história não perderiam tempo em ter assistido a estas provas.

15 comentários:

Anónimo disse...

De facto um assunto bastante interessante e exposto de forma ainda mais interessante! De referir também o excelente professor destas temáticas da arquitectura militar medieval, o Prof. Mário Barroca, que tão entusiasticamente transmite esses conhecimentos aos seus alunos na Faculdade.E finalmente ao Prof. Ferreira de Almeida que não tive o prazer de conhecer, mas que foi muitas vezes lembrado por vários professores ao longo do curso licenciatira de arqueologia na FLUP. Muitos dos trabalhos por ele publicado constituiram também para nós, então alunos, preciosos instrumentos de estudo.

Anónimo disse...

Não era no Zambujal que foram encontradas centenas de pontas de seta ? Que faziam lá? Que faziam com elas?

Não é conhecida nenhuma comunidade humana totalmente pacífica, aquelas que afirmam sê-lo quando pressionadas desenvolvem formas de guerra violentas e cruéis e são apelidadas de "sedentas de sangue". Livros de antropologia dedicados à guerra são também elucidativos aos pré-historiadores, que deveriam lê-los.

Vitor Oliveira Jorge disse...

Ao comentarista anónimo: pode crer que conheço pelo menos muitos desses livros sobre o conflito, a violência,a guerra, a que se refere, e que nunca me escapou a importância do tema fulcral do conflito e da sua antropologia... nem tal seria possível. Não tenho uma visão edénica do passado.Por isso o conselho é bom para os leitores do blog, se possível até com menções mais precisas. Mas cpode crer que eu já li bastante sobre isso.
Quanto à ligação de pontas de seta à guerra, ou a fins bélicos já mudamos de escala, dada a bem conhecida polivalência dos objectos; e quanto às pontas de seta encontradas nesta ou njaquela estação teremos de ver os contextos um a um.
Só um exemplo: mesmo admitindo muitas perdas, se um sítio que "dutou" 1000 anos contiver 1000 peças de certo tipo, há que ver em que contexto estão, porque pode ser que datasse (no limite, embora seja impossível de definir) uma por ano, ou que fossem as mil todas do mesmo momento (naturalmente que "momento" em pré-história tem um significado diferente do de outras épocas históricas... como a actual). Enfim, o assunto é muito complexo e este meu apontamento um simples apontamento...para mostrar o absurdo de certas "evidências". O porquê psicológico de muitas pessoas se agarrarem às "evidências" é que já seria muito interessante de explorar... por que é que certos temas se mantêm como quase indiscutíveis, CONTRA o princípio da ciência, que é o da dúvida? Por que é que certas explicações fáceis são tão bem aceites, quanbdo tudo quanto é FÁCIL é o raro nesta vida, que é complexa e não linear? Por que estão tantas pessoas ainda ligadas a um realismo ingénuo? Um bocadinho de fisoloia também ajuda... não digo isto para o anónimo, que obviamente nem sei quem é, mas para outros que nos lêem.

Vitor Oliveira Jorge disse...

No meu comentário anterior sairam algumas gralhas... no fim refiro-me evidentemente a filosofia. Um dos temas mais antigos da filosofia ocidental é o do conflito, e o do bom/mau selvagem, duas faces do mesmo mito criado pela nossa civilização: selvagem é o Outro.E discutir se o selvagem era pacífico ou se era aguerrido e sedento de sangue são duas faces do mesmo mito: a ontologização do outro. Mas quem é afinal esse outro?

Allexandre disse...

Continuando aqui a "conversa" iniciada alhures.. Essa hipótese - a das seteiras não serem 'funcionais' porque não permitiriam o uso de um arco cai por terra se considerarmos que os defensores usariam bestas, logo não precisariam do espaço de manobra exigido por um arqueiro.

Afinal, as bestas, irmãs mais antigas e de bem menores dimensões que as suas confrades romanas balistas, andam por aí desde talvez o século IV a.C., estando muito bem representadas, por exemplo, no exército chinês de terracota:

www.atarn.org/chinese/images/xbowman.jpg

http://www.atarn.org/letters/letter_summaries.htm#hanxbow

Os helénicos usavam engenhos similares - os gastraphetes - desde talvez o mesmo século e, daí, com a posterior helenização do Mediterrâneo, quem sabe... portanto, não me choca nada que na Idade Média - quiçá em épocas bem mais recuadas - as seteiras fossem completamente funcionais, desde que dotadas de besteiros - os do conto, provavelmente, de que toda a gente se procurava eximir a servir.. quanto a Millares, já não sei. Como homem preferencialmente Moderno, tento falar do que posso ignorar menos. :)

Vitor Oliveira Jorge disse...

Bestas em pleno calcolítico?!
Estamos a falar do IV-III-II mils a. C....
Cordialmente
Vitor O. Jorge

Vitor Oliveira Jorge disse...

Quando se trata de Idade Média, claro que remeto para o especialista, Prof. Mário Barroca. Não me alongo sobre o que não estudei, apenas aprendo mesmo quando estou numas provas de agregação como parte do júri – e ainda bem, claro!
Apenas queria referir na minha curta postagem que a história mais recente nos dá pistas para a menos recente...
É óbvio que mesmo para a Idade do Ferro muitos hill-forts ingleses estão agora a ser reinterpretados... A função defensiva não era em muitos a mais importante. Sobre isso tenho alguma bibliografia e é um tema de momento no Reino Unido.
Mas isto não quer dizer que as pessoas se não guerreassem. Estou convencido de que a nossa espécie é das mais guerridas de todas. Mas como também não sou etologista...
Saudações cordiais
Vitor O. Jorge

Allexandre disse...

Por isso mesmo disse que, quanto a Millares, não sabia. Apenas tentei re-interpretar a sua afirmação de que:

"Mas o curioso é que, mesmo em muitos sítios ou sub-estruturas de sítios (chamemos-lhes assim) medievais, como as torres de menagem, se começa a compreender que elas tinham um carácter não só defensivo, como essencialmente simbólico (a imponência); que muitas nem carácer defensivo podiam ter; e que as seteiras, para o ser, teriam de ter determinado espaço associado a cada uma: campo de tiro (espaço onde pudesse estar um homem a disparar) e campo de mira (espaço para onde o qual um homem disparava)."

Vitor Oliveira Jorge disse...

Obrigado pelos seus comentários; acima de tudo, é importante dialogar.

José Manuel disse...

Exacto. Há muitos edifícios medievais que não tendo uma vocação essencialmente militar utilizam elementos de tipo defensivo-militar como forma de afirmação de poder e prestígio. Por exemplo a igreja do antigo mosteiro Hospitalário de Leça do Balio (século XIV) que tem uma verdadeira Torre de Menagem ao lado com todo o tipo de dispositivos (seteiras, balcões de ângulo, etc) ou a utilização de ameias a na igreja.

Aliás no Porto medieval a utilização de ameias como elemento decorativo de casas era considerada uma afronta ao poder municipal. Há um caso duma casa que a Câmara mandou demolir por causa de lhe terem posto ameias na fachada.

Vitor Oliveira Jorge disse...

Ainda bem que me lembrei de postar esta breve nótula... às vezes temos a tentação da preguiça, ou de irmos a coisas mais urgentes. É a vantagem do blog. Mesmo tosco, fica registo.. Obrigado pela achega, Zé.

Allexandre disse...

Eu divido a nossa espécie em dois grandes grupos: atacantes e defensores (ou bárbaros e cidadãos, ou nómadas e sedentários, etc.). Mas isso sou eu. :)

Todas as cidades que conheço, de Ur a Ninive, de Tróia(?) a Berlim, de Paris a Washington, de Lisboa a Londres, de Moscovo a Pequim, de Roma a Cartago, todas elas foram cercadas, sitiadas e atacadas. Todas se defenderam com sucesso, uma ou mais vezes, e todas caíram sob as armas dos sitiantes, pelo menos uma vez.

Uma cidade, um castelo, um aglomerado populacional de alguma grandeza serão sempre alvos, pelas pessoas que encerram, pela riqueza acumulada que anunciam, no limite, pelo estilo de vida e prestigio que a sua captura promete ao sitiante. Contudo, esta vulnerabilidade só se faz sentir em períodos conturbados, não em época de alguma estabilidade.

Muito poucos que não se sintam ameaçados sentirão necessidade de gastar recursos tão valiosos como matéria prima, força braçal e tempo na construção de muralhas, torres, barbacãs, glacis e fossos. Só o farão se se sentirem ameaçados - pelo menos é assim que eu penso
pragmaticamente.

Por exemplo, porque terão os habitantes de Conimbriga sentido
necessidade de se muralhar, só alguns séculos depois?

Porque terá crescido Lisboa para fora do perimetro muralhado, no
século XVI quando ainda no século XV existiam ordem régias que
impunham a construção, renovação e beneficiação das muralhas
existentes?

Porque razão Wellington estabeleceu as Linhas de Torres?

Porque se "vaubanizou" Portugal de Norte a Sul, efectivamente
encerrando - e controlando - as entradas naturais do país em Valença, Almeida e Elvas, transformando os castelos tornados obsoletos pelo melhoramento das peças de artilharia de bater em praças fortes de formidável engenho?

Porque terá Duarte de Armas percorrido a raia portuguesa "debuxando do naturall" todas os castelos lá situados, a mando d'el Rei, de modo a poder relatar a sua condição e integridade defensiva?

Porque razão terá Filipe II feito construir a maior fortaleza espanhola fora de Espanha na ilha Terceira, Açores?

Nenhuma destas acções terá sido, certamente, executada por prestígio.

O prestígio, em contexto militar "normal" - excluo aqui, por exemplo, os Kamikazes japoneses e alguns oficiais da Guerra da Crimeia e da I G.G., efectivamente reféns de uma mentalidade tornada obsoletamente
suicida pelo "progresso" da tecnologia e da mentalidade marcial - vem depois do sucesso das armas. Portanto, discordo: eu considero que, salvo algumas excepções, toda a arquitectura militar é de natureza prática, pragmática e defensiva.

Agora, saber distinguir entre arquitectura de natureza militar e outra de natureza diferente (civil, religiosa, de prestígio, etc.) é que é o cerne da questão....

Unknown disse...

Todo o mundo militar é simbolismo, desde os uniformes às paradas, isto (infelizmente) não retira a sua funcionalidade.
Um dos melhores exemplos de simbolismo, na guerra, são as fortificações. Se estas não forem efectivamente capazes de resistir aos ataques, não duram muito tempo (são sempre visíveis e como tal um chamariz). Foram usadas ao longo da História como instrumentos simbólicos de domínio e como ferramentas funcionais para exercer esse domínio (inúmeros exemplos).
Uma força militar pequena, dentro de uma fortificação e com mantimentos, é extremamente perigosa, encontra-se protegida contra ataques podendo lançar os seus contra-ataques, nunca perdendo controle do território. O seu valor militar aumenta em relação a um exército em campo aberto.
Uma força atacante tem que ser mais numerosa para poder cercar uma fortificação e tem sempre o tempo contra si (campanhas realizadas nas estações do ano mais amenas), encontra-se em território hostil e em constante busca de mantimentos. Se uma força atacante não possuir armas de ataque às muralhas as hipóteses de conquistar a fortificação são diminutas (como exemplo temos os Maori e os Mongóis).
A afirmação "...uma autêntica "armadilha para ratos", quer dizer, se o castelo fosse tomado e se um senhor fosse cercado na torre com a sua soldadesca, teria pouca possibilidade de sair de lá vivo."(Jorge, 14 de Junho de 2007, Blog Trans-Ferir) parece-me estranha.Uma torre faz parte de um sistema defensivo, se o castelo for tomado pode ser a última chance de sobrevivência dos sitiados, uma segunda linha de defesa. Resumindo, o objectivo é não sair de lá.
As fortificações pré-históricas apresentam vários elementos que testam a sua funcionalidade: fortes de apoio, remodelações e reconstruções das estruturas defensivas, presença de pontas de seta em locais estratégicos, presença de ossadas humanas em locais pouco próprios, localizações óptimas do ponto de vista estratégico e táctico, elementos defensivos funcionais (cavalos de frisa, seteiras).
As seteiras de Los Millares encontram-se num local estratégico da fortificação, a porta principal. No Zambujal encontram-se num local também estratégico, o acesso ao último reduto (quando encontrarem a porta exterior da fortificação certamente teremos seteiras). Estas estão localizadas a um nível muito baixo precisamente para evitar que os atacantes se abriguem na base, em conjunto com os defensores no topo da muralha teriamos um excelente fogo cruzado que iria criar um terrível campo de morte. A existência de várias seteiras não implica que tivessemos um arqueiro em cada uma, apenas várias hipóteses de tiro para alguns arqueiros. O tamanho dos arcos varia com a distância do tiro e existem arcos pré-históricos mais pequenos, como podemos ver na Arte Levantina. A utilização de venenos e outras armas torna estas seteiras extremamente perigosas. O pano de muralha, que podia servir de abrigo para os atacantes neste local, parece exigir mais um elemento defensivo funcional, ele aparece na forma de seteiras, precisamente para dar tiros no pé.

Vitor Oliveira Jorge disse...

O anónimo "recibos"(não percebo por que é que se refugia atrás do anonimato, eu gosto muito de debater problemas com pessoas, sem qualquer vontade de as convencer dogmaticamente de nada, mas sabendo com quem estou a dialogar - é imperioso haver opiniões diversas sobre as coisas... mas cuidado com o regime da opinião... teria de lhe aconselhar a ler um pouco de filosofia, Deleuze por exenplo, mas...dá um bocado de trabalho e exige certo treino de pensamento, como saberá...não quero ser professoral) tem muitas certezas, que são as certezas do senso comum.
Naturalmente que um blogue é um sítio onde quer o autor quer os comentadores tendem a deslizar para afirmações curtas, fáceis, e simplitas. Mas eu apenas tento aqui, como noutras esferas do meu pensamento, ser contra-intuitivo. É isso que é a arte, a ciência ou a filosofia, como campos de criação: mostram-nos que o que parece habitualmente não é. Vê o que quero dizer?... as interpretações dogmáticas sobre os recintos do III e II milénios a. C. na Península abundam. Parece que as pessoas desconhecem a bibliografia europeia, desde logo francesa ou inglesa, e as dúvidas que suscitam, hoje,os milhares de recintos conhecidos, cuja problemática é discutida há décadas. Já Susana Oliveira Jorge deu em 1994 um passo significativo para ultrapassar as deias feitas sobre esta matéria... e organizou e publicou aqui no Porto uma nmesa-redonda discutindo isso...por que não lê os nossos livros?... ou leu? Por que não visita ou participa nas escavações do Castanheiro do Vento, por exemplo? Ou já o fez? Se ai for durante as escavações verá a complexidade das questões que estes grandes conjuntos monumentais levantam. Mas basta ler os livros, por exemplo, de Julian Thomas... onde nós, que não inventamos nada, vamos colher inspiração. São ambientes culturais e científicos muito mais ricos que o nosso.

Unknown disse...

Obrigado pela resposta e pela bibliografia.
O anonimato é uma homenagem aos colegas que trabalham a recibos verdes.
De qualquer maneira é irrelevante quem eu sou.
O que interessa é o papel que a Arqueologia pode ter na sociedade e como a sociedade desperta para a Arqueologia, numa busca de identidade cultural.
O estudo da guerra pela Arqueologia torna-se então essencial, principalmente nos dias que correm.
Mascarar o passado com a nossa subjectividade, com simbolismos, com arte, parece-me complicar em vez de tentar explicar.
A Arqueologia tem um papel no estudo da origem da guerra observando as provas (as fortificações Ibéricas), e claro, trocando opiniões.
É essencial que a Arqueologia produza teorias que ajudem a perceber origem, causas e funções do maior mal humano, a guerra.
Tudo o que disse no meu post anterior não é novo, são teorias cientificas de vários autores.
O povoado do Castanheiro do vento é um belo exemplo funcional de Arquitectura Militar.
Por favor não me recomende bibliografia com 14 anos e da sua mulher (que obviamente já li). Portugal tem que deixar o bairrismo académico.
Acredite, certezas não tenho nenhumas, só teorias.
Agora se justificamos tudo com o simbólico........