quinta-feira, 14 de junho de 2007

que é que a tua nudez acrescenta à sala?

Foto: Jim Furness
Fonte (reprod. aut.): http://www.jfphotography.net/


que acrescenta a tua nudez à sala, se te não conheço?
por que finges que te despes, se a tua presença
é mais enigmática do que a de um móvel
e talvez menos forte do que um dos quadros,
menos aveludada do que uma das almofadas, menos
importante do que a descida dos cortinados?


eu sei, brincas comigo às escondidas
aproveitando-te do facto de estares dentro
de uma fotografia, quer dizer, de uma vitrina
para a qual o tempo lá de fora é indiferente.
como é indiferente a minha presença.

que posso eu fazer contigo se não brincar também
às voltas entre os móveis,
enquanto as nossas imagens soltas
se reflectem no brilho dos tampos,
sem que nada do cenário se parta ou se perturbe?

se em vez de eu caminhar de fora para dentro de ti
como tudo indica que é conveniente,
pudesse sair antes do teu interior;

se a tua beleza fosse a minha voz parida pelo teu ventre,

então sim, talvez esta luz eterna ganhasse sentido
e eu pudesse descer até às gotas que caíram no princípio
nos poços fundos da minha alma,
e conseguisse contigo, num acto de recuperação,
recolher na concha da mão os primeiros sinais
da almejada sintonia.

voj 2007

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