Por exemplo, "arqueologia" (ou mais precisamente "arqueologia do saber") e "genealogia" em Michel Foucault, já um clássico!
Socorrendo-me do excelente "Dictionary of Critical Theory" de David Macey, dos Penguin Books (2000, paperback 2001, p. 19 e p. 157), para mais rápida definição, lembro que a arqueologia do saber (noção elaborada por Foucault nos anos 60 do séc. XX e inspirada em Kant) nada tem a ver com a "história das ideias" ou das "mentalidades", mas antes com algo de muito mais interessante: "(...) a emergência e transformação de FORMAÇÕES DISCURSIVAS e da EPISTEME subjacente que comanda as relações entre elas. A arqueologia refere-se ao que Foucault designa "o inconsciente positivo do saber", isto é, um nível de saber que escapa à consciência dos cientistas e pensadores individuais mas que confere às suas teorias regras e estruturas subjacentes." (op. cit.,pp. 19).
A "genealogia do saber" aparece em Foucault a partir dos anos 70, mais como algo complementar do anterior conceito, do que para o substituir, e desta vez inspira-se em Nietzsche. As genealogias do poder ou da sexualidade, por exemplo, como "corpos de saber", "não têm momentos determinados de origem, e não são configurações estáveis. A genealogia desenraiza [como quem abate uma árvore extraindo-a do solo pela raiz] os fundamentos tradicionais da história e destrói a aparente continuidade da história concentrando-se em acontecimentos e em "acidentes" e insistindo que o pensamento se enraiza sempre no poder, embora procurando negar essas mesmas origens." (op. cit., p. 157).
Por exemplo, "Não há qualquer verdade escondida ou interna numa categoria como a de GÉNERO (...). Um estudo genealógico do género, portanto, não visa a libertação de uma qualquer essência reprimida, mas sim uma libertação em relação às categorias do género." (id, ib.).
Em relação com estes conceitos está por exemplo a noção fundamental de "formação discursiva", estudada pela arqueologia do saber.
Citando o mesmo precioso livrinho (id, p. 101), e autor : as formações discursivas "não têm "autores" no sentido tradicional, e são constituídas por ARQUIVOS de colecções anónimas de textos que adquiriram, no seu campo, um papel dominante."
Que é, então, um "arquivo" para Foucault ? Segundo a eficaz e concisa síntese de Macey (ib, p. 20) "(...) é essencialmente a lei que governa o que pode e não pode ser dito num dado período ou situação, ou o sistema geral que comanda a formação e transformação das afirmações e proposições."
Temos assim três níveis de um formação discursiva:
- linguagem - "sistema que define o conjunto total das afirmações que é possível construir" (id, ib.)
- arquivo - "nível intermédio que determina quais as afirmações que podem ser feitas, manipuladas e analisadas." (id, ib.)
- corpus - "descrição de todas as afirmações que foram realmente feitas. (id, ib)."
Não ignoro evidentemente que esta "rede" de conceitos está, como qualquer outra, datada.
Mas sem passar por ela não é possível pensar.
Socorrendo-me do excelente "Dictionary of Critical Theory" de David Macey, dos Penguin Books (2000, paperback 2001, p. 19 e p. 157), para mais rápida definição, lembro que a arqueologia do saber (noção elaborada por Foucault nos anos 60 do séc. XX e inspirada em Kant) nada tem a ver com a "história das ideias" ou das "mentalidades", mas antes com algo de muito mais interessante: "(...) a emergência e transformação de FORMAÇÕES DISCURSIVAS e da EPISTEME subjacente que comanda as relações entre elas. A arqueologia refere-se ao que Foucault designa "o inconsciente positivo do saber", isto é, um nível de saber que escapa à consciência dos cientistas e pensadores individuais mas que confere às suas teorias regras e estruturas subjacentes." (op. cit.,pp. 19).
A "genealogia do saber" aparece em Foucault a partir dos anos 70, mais como algo complementar do anterior conceito, do que para o substituir, e desta vez inspira-se em Nietzsche. As genealogias do poder ou da sexualidade, por exemplo, como "corpos de saber", "não têm momentos determinados de origem, e não são configurações estáveis. A genealogia desenraiza [como quem abate uma árvore extraindo-a do solo pela raiz] os fundamentos tradicionais da história e destrói a aparente continuidade da história concentrando-se em acontecimentos e em "acidentes" e insistindo que o pensamento se enraiza sempre no poder, embora procurando negar essas mesmas origens." (op. cit., p. 157).
Por exemplo, "Não há qualquer verdade escondida ou interna numa categoria como a de GÉNERO (...). Um estudo genealógico do género, portanto, não visa a libertação de uma qualquer essência reprimida, mas sim uma libertação em relação às categorias do género." (id, ib.).
Em relação com estes conceitos está por exemplo a noção fundamental de "formação discursiva", estudada pela arqueologia do saber.
Citando o mesmo precioso livrinho (id, p. 101), e autor : as formações discursivas "não têm "autores" no sentido tradicional, e são constituídas por ARQUIVOS de colecções anónimas de textos que adquiriram, no seu campo, um papel dominante."
Que é, então, um "arquivo" para Foucault ? Segundo a eficaz e concisa síntese de Macey (ib, p. 20) "(...) é essencialmente a lei que governa o que pode e não pode ser dito num dado período ou situação, ou o sistema geral que comanda a formação e transformação das afirmações e proposições."
Temos assim três níveis de um formação discursiva:
- linguagem - "sistema que define o conjunto total das afirmações que é possível construir" (id, ib.)
- arquivo - "nível intermédio que determina quais as afirmações que podem ser feitas, manipuladas e analisadas." (id, ib.)
- corpus - "descrição de todas as afirmações que foram realmente feitas. (id, ib)."
Não ignoro evidentemente que esta "rede" de conceitos está, como qualquer outra, datada.
Mas sem passar por ela não é possível pensar.
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