metodologia
uma imagem sobre um fundo
é tudo quanto é preciso para se dar início.
a imagem pode ser a de uma cómoda
contra uma parede: e aí fica.
não sabemos por quantas tardes
o sol virá iluminá-la, para mais tarde a largar
à sua obscuridade.
não sabemos quantas mãos poderão nela depor
um vaso de flores, nem qual o odor que estas terão,
e o clarão que a sua cor espalhará.
mas é sempre possível
reverter a situação: e sobre a cómoda
não está nada;
e logo estás tu, despida.
não sei há quanto tempo
me olhas, ou se me aguardas,
ou se deixas descair uma das pernas.
e se isso acontecer, quantas vezes
virá o sol tornar-te fulvos os cabelos
do ventre, e quanto tempo
levará a apagá-los.
a arte é isto, dispor objectos
sobre um fundo, desdobrar uma mulher
na sua intimidade,
puxá-la ao primeiro plano
da sua mais íntima tremura;
do seu mais interior veludo.
e depois esperar
pelo que acontece.
o poeta nada mais tem
do que dispor pétalas
em frente da cómoda,
pelo chão;
e depois virar costas
para sempre, tentando saber
o que se perdeu.
voj 2008
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