sexta-feira, 21 de março de 2008

breve nota sobre a temporalidade

O meu principal "trabalho" neste momento é pensar, isto é, tentar perceber as coisas que para mim são mais importantes e básicas.
Isso só o consigo fazer em casa e numa certa (se possível absoluta) reclusão.
Preciso em geral de uns dois a três dias para, por momentos liberto dos afazeres "profissionais",
conseguir começar a sentir que consigo pensar.
Posso estar iludido, é claro, é quase certo.
Essa é para mim a tarefa principal do que quer pensar: deixar passar algum tempo sobre as pressões diárias para finalmente começar a ser.
Este "trabalho" dá muito prazer e em geral confunde-se (se não erro) com aquilo a que as pessoas chamam "férias" e para que correm desalmadamente em grande número e com a maior frequência possível.
Mas posso, nisto como em tudo, estar equivocado. Estou com certeza "iludido", no sentido mais geral de que qualquer pensamento, qualquer enunciado, não escapa às regras dos afectos e portanto da subjectividade/objectividade. Desse jogo.


11 comentários:

Terras de Algodres disse...

Perante esta sua afirmação, caro Víctor, quase asseguraria que está equivocado. De facto, ao afirmar que precisa de isolamento para pensar está como que a renovar a tradicional dicotomia que inpirou a ciência moderna: a da exteriorização do observador (pensador) relativamente ao observado (pensado). Além diso, sendo a sua profissão professor, "o que lhe interessa" não pode ser destacado da sua actividade profissional. O seu permanente reclamar por falta de tempo para se extrair às solicitações e aos "trabalhos" do quotidiano estabelece uma dicotomia, a meu ver, perniciosa, sobretudo quando se é professor e investigador: a de uma vida profissional que se tem que fazer, face a uma vida de descoberta e de "construção" ontológica que nos surge como urgente e indispensável. Aliás, o seu apelo a um interlocutor dá a entender que sabe bem que pensar é um acto relacional, que é mais fecundo no diálogo, que no isolamento. Ser professor é uma profissão privilegiada para se pensar; ser investigador, inserido numa comunidade dialogante, não é menos. Creio que a sua busca de isolamento é um paradoxo face às suas preocupações de cientista social.
Peço perdão por esta interferência. Visa tão só interrompê-lo e gerar discussão, ou seja, pensamento.
Como sabe,embora nem sempre de acordo,tenho-o em consideração.
Um abraço.
António Valera

Vitor Oliveira Jorge disse...

Caro amigo
Sabe que a consideração é mútua e a disponibilidade para o diálogo também. Isto é uma pequena nótula de circunstância - não uma teria geral da vida ou mesmo da minha vida. Claro que estou de acordo consigo. Mas às vezes o blogue serve (como bloco-notas) para registar uma impressão ou intuição de momento... e neste caso é sobretudo um recado para as gerações mais novas, que devido ao ambiente que nos cerca têm muita dificuldade (como aliás qualquer um, mas eles têm menos defesas...) de concentração... Ora,podem acelerar tudo, menos a capacidade que temos de incorporar e interiorizar e de facto criar algo, não só citar... o que é um processo muito lento e ainda bem... como o bom vinho. Uma pesquisa constante e por vezes - devido à falta de boas bibliotecas, etc - muito dificil para a falta de tempo... e de dinheiro!
Um abraço
Vitor

história e arte disse...

bem, sei duvida q este espaço é ideal para dias como estes q se pretendem de reflexão... não pretendo entrar na conversa pois considero q o meu grau de incertezas é evidentemente muito superior ao vosso e como tal q poderia eu acrescentar... apenas duvidas e disso ninguém precisa...

agradeço imenso este fervilhante ritmo de reflexão...

cumprimentos

Emilia Nogueiro

Vitor Oliveira Jorge disse...

Já entrou... a certeza é apenas um espaço entre dúvidas. Vamos morrer sem perceber nada. Mas pensar faz parte do gozo de viver. Pensar para mim é pôr dúvidas. Por isso, se quiser, exponha-as (se) e não se acanhe... o falar assertivo é tique de professor. Para esquecer aqui, se possível. A mim só me intreressa falar doi que ainda (julgo) que não sei... o que já sei (ou julgo saber) está morto, é a parte de mim que não interessa.

Unknown disse...

"We think in generalities, but we live in details."
Alfred North Whitehead (1861-1947)

história e arte disse...

na verdade estava cheia de vontade de entrar na conversa... gosto muito do q escreve e como este formato o permite fui entrando....
também eu desfruto do imenso gozo de poder pensar, por puro exercicio de divertimento e consciente q tal como diz vamos morrer sem perceber nada...

esta constatação é dificil, por muito q tente pensar nela como algo irrefutavel, e sendo q já lhe dediquei algum tempo, já deveria ter interiorizado este raciocinio como algo pacifico... mas ainda não fui capaz... lá chegarei... ou se calhar não.

Como diz o seu amigo de algodres o interlocutor facilita o processo construtivo do pensamento,

eu julgo q o q sabemos ou julgamos saber é determinante para percebermos o q não sabemos ou julgamos não saber...

é neste processo construtivo q já o inclui a si ao ler o q escreve... não o maço mais bom fim d semana... obrigado pela pachorra p m aturar!

Vitor Oliveira Jorge disse...

Não me maça nada. Agradeço. Se não fechava o blogue. Sem interlocutor não se pode ser, nem pensar... para mim a necessidade de isolamento é apenas prática, funcional, temporária... venham ideias! Sobretudo nestas "quadras" vazias... e quando não se vai de férias...ideias,sugestões, coisas novas, precisa-se!

Terras de Algodres disse...

Morrer sabendo que nada se sabe, já é saber alguma coisa, sendo a afirmação apenas uma variante da máxima socrática.
Mas para mim essa máxima traduz um dos dramatismos mais básicos da moderna consciência: o conflito, que se prevê eterno, entre a necessidade e a aspiração à perenidade e a consciência da sua impossibilidade. Por outras palavras, é o drama de se saber que é caminhando que se vive e conhece, mas procurando sempre chegar a um sítio, a um local ideado que quando se materializa apenas se revela como mais uma paragem provisória no trajecto (ou nas possibilidades de trajectos). A solução só poderá estar na aquisição de um sentimento de estabilidade na instabilidade, num apreciar da caminhada.

António Valera

Terras de Algodres disse...

Ah! Já agora: não gosto desta nova modalidade de comentários. Percebo-a, mas não gosto.

Vitor Oliveira Jorge disse...

Refere-se à moderação de comentários? Foi-me imposta por um (?) ou mais anónimos(?) que se estava(m) a aproveitar deste espaço para atitudes gratuitas de "má-educação", do tipo chamarem-me "porco", e coisas assim... Infelizmente, é o mundo em que vivemos.
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Quanto ao seu comentário anterior, estou de acordo. Na verdade, o que faço às vezes são atrevimentos, porque careço de formação filosófica (não me refiro necessariamente a um curso... um curso em si e só por si não habilita ninguém, dá ferramentas, é claro. Ora, a filosofia está de volta em força e permeia tudo, mas é difícil. É preciso ler autores que exigiriam sabáticas... como Fernando Gil, por exemplo... por isso vou-me atrevendo mas cada vez com mais cautela.
Veja-se a poesia nostálgica e belíssima de Ruy Belo (postagem seguinte)...
Abraço!

Anónimo disse...

Há já algum tempo que não comento nada aqui. Não é por causa da moderação. É por causa dos conteúdos do que se posta e do que se comenta.
O blog corre ao lado de coisas que estão a acontecer no mundo sem as mencionar. Não que eu pense que um blog deva ser um diário de notícias ou um relatório filtrado de acontecimentos com impacto mediático.
Mas...não sei... este está a perder adrenalina ao nível do debate!Venha lá debate!!!!

Susana Jorge