sexta-feira, 31 de agosto de 2007

Rundale Pils












O Palácio de Rundale perto de Jelgava.
Vi por lá um grupo de turistas portugueses que estavam de visita à "pérola do Báltico - Riga".
Mas atenção! Isto não é Riga. Fica aliás ainda a algumas dezenas de quilómetros da capital, no meio do campo, rodeado de antigos "колхозy (kolkhozy)". Estes aparecem hoje como campos de uma paisagem rural. Para o turista nem parece que esta já foi uma orgulhosa Republica Sovíetica (Latvijas Padomju Sociālistiskās Republikas - Padojmu é sovietica em letão).

É muito engraçado ver o modo como o absolutismo e o barroco se manifestaram por aqui.
A disposição de toda esta mobília fez-me pensar sobre a questão da cultura material e o tempo. A primeira vez que tive essa sensação de falsidade foi numa visita em miúdo ao Palácio da Pena. Foi aí que percebi que tudo o que ali estava não estava como no original. Não existia uma Pompeia abandonada. As coisas não estava como o "Rei" as tinha deixado quando saiu. Este problema que se coloca na musealização destes espaços resulta afinal do mesmo problema que sofre a arqueologia: o tempo é considerado como uma série de momentos, sendo apresentado ao turista a "relíquia" do "último". Contudo a verdade é que raramente o que é apresentado se relaciona efectivamente com o momento que se quer caracterizar. Em Rundale por exemplo passamos de salas de barroco rococó do séc. XVIII (onde se nota o cruzamento de várias influências) para outras com estilo do séc. XIX, marcadas pela a presença de uma certa aristocracia russa . O edifício é tão rico que a cristalização do momento não faz justiça à sua história. E de tudo resulta uma amálgama virtual.
Nota-se também que o que verdadeiramente as pessoas querem (quer turistas quer agentes do património) é criar a ilusão de um dia como elite do barroco, desfrutando do sublime. É isso que ali está: é o desejo. Quer-se encarnar a fantasia. A "jouissance" de Lacan apresenta-se em cada sala. Cada visitante desfruta de Rundale. Mas não completamente claro. É aliás graças a essa repressão (desfruta-se, mas não se pode fazer de tudo, pode-se apenas imaginar) que o jogo se intensifica. Sabemos que não está lá tudo. Há peças escondidas, e mesmo estas que estão expostas revelam apenas o essencial. Por outro lado todo este excesso leva-no a ficar cansados de tanta opulência a determinado ponto. Como quem engole um enorme bolo de chocolate. As nossas pernas já não querem percorrer mais salas, os nossos olhos estão cansados de luxo. Já chega, pensamos.
Mas nunca chega. Em Rundale todos desejam um dia ser...
Que bela maneira de sublimar que o capitalismo nos apresenta em cada Palácio... e não só.
Afinal todos nós podemos ser o que quisermos, não é?

3 comentários:

Vitor Oliveira Jorge disse...

Sem tempo ainda para ler o texto, desde já sublinho a beleza das imagens, extremamente inspiradoras.
Adoro estes palácios, estes interiores, a paragem de tempo que aqui se respira.
É o contrário do Porto, onde somos brindados com uma coisa que ainda não percebi muito bem o que é, mas que é uma espécie de "fórmula 1" aérea, com malucos incomodando de ruído toda a gente em todas as direcções, sobre as casas, com monomotores, isolados e em grupo. Parece que andam a treinar para um campeonato que não nos deixará ter o último fim de semana de férias sossegado. É claro que estes exercícios deviam ser feitos noutros lados, ou nem sequer ser permitidos, mas como parece que à pala disto os hotéis do Porto estão cheios... etc., o povo vai todo ver. Também há para quem goste Quim Barreiros nas festas aqui da minha freguesia do Lordelo. Animação.

Vitor Oliveira Jorge disse...

Escuso de referir, relativamente ao meu comentário anterior, que a palavra "malucos" se encontra ali a título metafórico ou humorístico, como naquele filme "Os Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras". Não procuro ofender ninguém, e muito menos o desporto e os desportistas. Mas fazerem das minha cabeça uma mioleira durante dias seguidos, confesso que é demais para quem esperava um Porto em fim de Agosto, silencioso e calmo, se possível ainda com muita gente em férias. Acaba a minha casa de ser sobrevoada por mais um destes potentes fazedores de barulho ensurdecedor. Ainda bem que não sou espanhol: nem uma sestinha me deixam fazer em dia de férias. Safa!

Anónimo disse...

Eu gosto das avionetes...