quinta-feira, 30 de agosto de 2007

rock ‘n’roll


tu bem sabes que trago escondido
um saco de coisas
que têm a ver contigo:

esta vontade de dançar,
de te colher pela cintura,
de dessecar a língua
nas gotas do teu suor.

este movimento incontível
que me traz para o centro da pista
todo a tremer,
como se tu, eu, e a sala
fôssemos apenas música,

e esta vontade de deslizar
interminavelmente,
acolhendo quase inocente
todas as surpresas
da tua fragilidade

até irmos de encontro a uma mesa,
um rebordo de móvel,
qualquer superfície adequada.

de facto, preciso de muitas coisas de ti,
e uma delas poderá ser até amar-te
eternamente;

mas, compreende,
para mim é prioritário agarrar-te
com uma mão em cada nádega,
certificar-me
de que és o meu cordeiro pascal,
o meu jovem animal sacrificado.

venho ultimamente dando
pontapés descontrolados
ao saco da vida
de todos os dias:

mas um velho pecador
não se sente bem assim,
e logo um profissional como eu
de botas terminando em bico de aço!

quero pois agarrar-te os tornozelos macios
como se fossem remos
de um barco vivo,
começar já a navegação.

preciso de deitar
este saco ao chão,

antes de poder ser teu amigo
ou inimigo,
de fumar seja o que for contigo
a uma mesa de café
ou, se preferires,
nas traseiras mais discretas
de uma destas noites distantes
que tem o verão.



voj copyright texto e foto

Sem comentários: