fotos: Diana Diriwaechter
fonte: http://www.dianadiriwaechter.com/gallery/index.html
ele via-a sempre a passar,
de tal modo
que não chegava a vê-la,
para ter a certeza.
às vezes só o corredor.
vazio, inútil
na sua eternidade.
e voltava para o quarto,
para a companhia
da mesinha de cabeceira,
do despertador,
dos comprimidos que tinha trazido.
o caminhar ao longe
de uns pés nus,
como pode adivinhá-lo
o que dorme cada noite
em cidade diferente?
e voltava a abrir a porta
mas ela tinha já passado
de um lado para outro,
provavelmente.
e ele olhava as luzes,
o número das portas,
tudo a encaminhar-se
para o fundo, como deve ser.
e perguntava-se:
por que é que a realidade
é tão estranhamente
acomodada,
por que é que tudo acontece
mais ou menos
como deve de ser?
era este o único fito
com que se deslocava
de quarto em quarto,
sempre utilizando
uma só das almofadas,
sempre desfazendo apenas
meia cama.
na companhia dos candeeiros
sobre as mesinhas,
e deste som de nevoeiro
que à noite
se instala nos ouvidos.
e vinha às portas.
e via-a passar.
mas não tinha bem
a certeza.
de maneira que nunca
podia convidá-la a entrar
até dentro do poema,
saber por exemplo
por que vestia de vermelho.
por que teria sido decidido
há muito tempo
que fosse assim,
sempre um pressentimento;
e voltava de novo
para a companhia do écrã
onde tentava reproduzir o corredor;
a sua persistência.
texto: voj 2007
do livro em preparação: "Casa das Máquinas"
Sem comentários:
Enviar um comentário