sábado, 22 de setembro de 2007

Os desertos estão na moda


Como se vê por exemplo no suplemento FUGAS do Público de hoje, que parcialmente reproduzo. O texto é leve, como é próprio destas coisas. Voltarei aos desertos para tentar cruzar o tema com um traço um bocadinho mais fundo, neste mar de areia e de pedra.
O Giacometti, que conhecia bem o Sara, e era (apesar de tudo) um solitário, contou-me uma vez que para dormir uma noite se encostou numa duna (imagino que protegido contra o frio intenso e a bicharada) e no dia seguinte acordou já em terreno chão. A duna tinha "voado" para um pouco mais adiante.
Talvez seja belo morrer num deserto, como um dromedário exausto, que tomba e se revolve para tentar reerguer-se antes do cansaço o vencer. Fica ali numa espécie de ninho redondo, ainda com as marcas em volta das patas titubeantes da agonia, à espera que as aves de rapina o limpem.
No deserto como noutro lado qualquer desta planeta, não há piedade. Mas no deserto existe uma vantagem: não se finge, nem há ranho nem choro, as coisas nascem e morrem silenciosa e anonimamente, sem pieguices, como se apenas viajassem do solo para o céu, quais figuras do Chagall.
Gosto disso. Detesto o pathos, as lágrimas, essas coisas onde as pessoas se liquefazem e de descompõem, amparadas pelo público. Antes uma rocha, exposta a todas as intempéries, com a sua pele de tuaregue bem curtida.


1 comentário:

Ana Macedo Lima disse...

deixo-lhe um link:
http://wildisthewind.wordpress.com/2007/09/22/terra-mae-yann-arthus-bertrand/
Ana Macedo Lima