Na linha das justificações a la Gorbatchev temos agora Vaclav Havel no Le Monde: "Les surprises de l'Histoire".
Para alem de se demonstrar mais uma vez a ingenuidade de muitas das figuras da mudança (que ele próprio admite), há aqui também a importância da presença do Outro pela mão dos jornalistas estrangeiros. Havel é honesto ao ponto de demonstrar que o objectivo de muitos dos "dissidentes" era não o poder, mas sim a contestação ao poder, à visão única da História. O seu sentido era o da pluralidade democrática.
Destaco esta parte:
"d'adopter une attitude humble à l'égard du monde, de respecter ce qui nous dépasse, de tenir compte du fait qu'il existe des mystères que nous ne comprendrons jamais et de savoir qu'il faut assumer notre responsabilité sans la fonder sur la conviction que nous savons tout, en particulier comment tout va finir. Nous ne savons rien. Mais l'espoir, nul ne peut nous l'ôter. Du reste, une vie qui ne réserverait aucune surprise serait bien ennuyeuse."
O seu problema era o totalitarismo num sentido da experiência de uma resposta que aparenta conhecer tudo sobre a História. No fundo o lado fukuyamista de "fim da História" presente no outro lado do muro. É essa luta sobre quem irá ditar o fim da História que atravessa a II Guerra Mundial.
O movimento a que Havel aderiu era um movimento de abertura à imponderabilidade. Um grito de revolta que poderia ser pintado através desse slogan de Paris de que "As estruturas não marcham nas ruas".
Aqui retorno à expressão lapidar de Lacan em relação a Vincennes: "O que vocês enquanto revolucionários aspiram é a um Mestre. Vocês vão tê-lo.". Deixo como link a ligação à discussão em Vincennes tal como transcrita na revista "October" vol. 40 págs. 116-127 (sim é algo de leitura obrigatória e que merecia um post só por si).
Pergunta: todo o revolucionário tem o Mestre que merece?
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