domingo, 29 de novembro de 2009

chão, mesa, escadas...



A minha casa foi tomada de assalto

Esta manhã

Pelo começo de mais

Um dia



Vinham uma série de sinais

Encapuçados

Deixando cair pelas escadas

Ferramentas e caixas



E nessa precipitação

Atropelaram-se as horas

Umas nas outras

E saíram-me dos bolsos



Bilhetes de filmes antigos

Lenços de papel de cafés de aeroporto;



E enquanto tentava pôr

Tudo isso em ordem

Refulgiram de novo as árvores ao fundo;



E o dia já acabava; e saíam

Os signos encapuçados, rindo muito,

Deixando cair chaves de fendas,

Prometendo voltar depois da noite...



Entretanto, toda a tarde,

A mesa da cozinha

Terá emanado uma estranha luz;



E sobre ela tu estarias sentada,

Nua três vezes sobre a tua nudez.



E essa refulgência, indecoro,

Assalto de pernas traçadas,

E nádegas, e lábios experientes,

E sinais que de toda a parte trouxeste



Estavam ali parados, esperando,

Em assédio subtil, aparição,



De que só fui a tempo de recolher

Um vestígio tombado.



A tua camisa camisa de noite

Totalmente despida, e entregue

Na sua nudez.



Então sobre o tampo da mesa tentei aspirar

Os sabores de tão flagrante

(Des)encontro, e o meu jantar

Foram os sinais que a tua pele ali deixou.




VOJ

(texto e foto - porto, nov. 2009)

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