O Reitor da Universidade de Lisboa contínua na sua luta para conseguir reunir as Universidades e Politécnicos de Lisboa numa só instituição. A ideia é simples: unidos venceremos. Esta parece-me ser mais um exemplo do que parece, em princípio, uma boa ideia e que rapidamente se demonstra que não é.
O principal móbil do Reitor da UL é concentrar recursos de modo a que Lisboa possa vir a ser competitiva no quadro das Universidades a níveis mundiais. Mas será que esta concentração irá efectivamente resultar numa melhoria na investigação e ensino feita em Lisboa? A pergunta rapidamente quase que se responde por si mesma para quem conhece o quadro das Universidades a nível mundial. Tomemos os nomes que os portugueses conhecem de cor: Oxford, Cambridge. Foi a tradição e a aposta na excelência que fez com que estas universidades continuassem a liderar numa série de rankings. Para quem conhece Cambridge, sabe do horror com que os lentes olharam sempre para a possibilidade da massificação do seu ensino. É conhecido o valor das propinas nas melhores universidades inglesas. Elas não são para qualquer um (o que é mau). Existe um sistema de bolsas devidamente apoiado por uma série de patronos, que tem por base toda uma tradição de apoio ao valor, estimada por uma série de famílias patrícias.
Por todo o mundo têm surgido pequenos centros de investigação e universidades com resultados de excelência. O Politécnico de Zurique não foi montado para ser uma instituição de massas. Los Alamos ou o Instituto de Santa Fé são conhecidos por terem sido montados com base num paradigma de centros de excelência.
Do outro lado do espelho estão as megas-universidades. Lembro-me bem quando estava na Complutense de Madrid do modo como os docentes e alunos se queixavam do tamanho da Universidade. Para além da super-burocracia, as negociações orçamentais derivavam em guerras abertas entre vários sectores, que apesar de apoiados por uma série de investimentos, simplesmente não conseguiam fazer frente ao Monstro que se havia tornado aquela universidade (com um número de alunos em torno dos 80.000).
Que modelo de Ensino Superior poderia funcionar em Portugal? Talvez um dos primeiros passos seria de facto descentralizar a investigação criando centros de excelência em pontos diversos do país. Aliás é isso que tem vindo acontecer um pouco. Quem passa pela Covilhã de hoje, certamente que não deixa de reconhecer a diferença e o impacto que a UBI veio trazer aquela região. Pena é que a Beira Interior como um todo não possa ainda ter beneficiado do sucesso da UBI.
Falemos da Arqueologia. A criação de um centro de excelência fez parte dos projectos para o Côa. Infelizmente muitos destes centros sucumbem na luta pelo protagonismo das figuras (Portugal é um país refém da figura do Eu).
Em Mação, por exemplo, o projecto já não está simplesmente ao nível da escala europeia (há cada vez mais pontes com a América do Sul e com África). Se é possível fazer em Mação não seria possível fazer no Côa? Conheço ambos os contextos, sei das diferenças, nomeadamente da necessidade de existir um interlocutor no poder local com visão.
Ao longo destes anos em que saí da Universidade de Coimbra, fiz o meu doutoramento na Universidade do Porto, enquanto trabalhava no pequeno Politécnico de Tomar, pude aperceber-me das vantagens dos pequenos centros, e do modo como são alvejados constantemente pelo poder central (por exemplo em Tomar a DGES nunca permitiu que a licenciatura toma-se o nome de Arqueologia, obrigando a que tomasse o nome de "Técnicas de Arqueologia" por força de algo que não existe no direito português: a tradição - nota para quem escreveu tal parecer: o direito português não é um direito consuetudinário). Também sei dos seus problemas, nomeadamente a capacidade de captar alunos interessados, motivados e preparados, o modo como se tornam reféns das lutas de poder locais, as dificuldades de financiamento em regiões deprimidas... o mundo não é perfeito.
Agora que já se percebeu o que falha na Reforma de Bolonha, talvez haja espaço para finalmente mudar o panorama do Ensino Superior em Portugal. Talvez se existissem centros de excelência espalhados pelo país, em zonas-chave, com equipas com equilíbrio entre juventude e experiência, se pudesse fazer mais do que o que se fez até agora. Vamos tendo cada vez mais doutorados que nos permitiriam dar esse salto. Estamos à espera do quê?
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