domingo, 4 de novembro de 2007

tantra

Foto: Sophie Paulak
Fonte: http://www.ma-nouvelle-vie.net/index.php

eu sei.
quem quer que seja este eu,
ele sabe.

ele conhece-te.
quem quer que tu sejas,
ele já te localizou.

e percebeu
o que há a fazer
para vencer a colina dos dias,

esta aparente
in-diferença.

com quatro pioneses
afixa a tua foto num painel,
e pronto.

por detrás pode surgir
a parede,
e do outro lado dela
(este movimento de câmara
é que é fundamental)

o esplendor da floresta,
o seu acordar natural.

os odores, os bichos,
no seu apelo colorido.

as notas, a música,
o passo de dança no templo
sobre as tablas.

julgas que com isto
insinuo
que és apenas um pretexto?

pensas que caminho obcecado
para as deusas de khajuraho,

que subo as escadas das montanhas,
do maha mandapa,

e te deixo em casa,
como imagem pregada
à parede do meu passado?

sabes que a palma
de xiva
aponta para o pé

representando
a salvação
contra a ignorância?

e a sua perna levantada
a libertação
que o bailado repete?

quem te julgas tu
para poder interceptar-me
o passo,

seja quem quer que tu sejas
seja quem quer que eu seja,

o ungido dos óleos
ou simplesmente

alguém que caminha
por dentro de uma raga
ao encontro da sua própria tontura,

o que afixou a tua imagem
com quatro pioneses
bem premidos pelos dedos

até furar a parede
que lhe ocultava a floresta,

este renascimento
este sol

este clamor enorme
dos elefantes cobertos de flores
que o irão finalmente esmagar
no solo,


marcando a parte inferior da página
deixada em branco
pelo texto

com pegadas enormes,
grandes como nenúfares espessos,

espécies que, dizem,
exalam
essências
da criação

sons fundamentais,
a dança do universo,

mantras longínquos.

talvez eles tragam
ainda alguns dos teus atributos,
e nem tudo esteja perdido;

talvez possas ainda descolar-te
da parede, curar as feridas
que te fixaram,

aparecer dentro
de um anel de chamas.



voj 2007

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