Em Dezembro de 2006 propus a uma instituição o seguinte seminário, que, por motivos alheios à minha vontade, ainda se não veio a concretizar:
VIDA, ARTE E ARQUIVO – A OBSESSÃO DE FIXAR UMA MEMÓRIA DO EFÉMERO
Este seminário trataria das relações do vivido, do expressivo (arte) e da memória de ambos, ou seja, o seu registo e a sua reprodução. Tema potencialmente vastíssimo.
1º dia: A arte saída da vida
- quando as imagens começaram a sair da pedra (“pré-história”)
- a transmutação dos rituais em actos expressivos intencionais – religião formal, teatro, passagem de cenários improvisados a cenários fixos (arquitectura)
- o que é o acto de criação
- por que é que a sociedade ocidental “inventou” a arte, a sua história, a sua conservação/arquivação (museu)? A arte sobreviveu à sua “morte” anunciada nos inícios do séc. XX?
- A criação do artista e do seu público/mercado, a individualização, a separação da arte em relação ao artesanato e à “técnica”
- o jardim: microcosmos como éden e como a antítese da “natureza virgem”
- pode a vida ser vivida como uma “obra de arte”? ou seja, que valor acrescenta “o artista” à vida? Por que é que a arte e a cultura continuam a ser importantes motores da acção humana e da própria economia, estando mesmo no centro da economia contemporânea do signo (mercantilização global de tudo)
2º dia: A arte saída da moldura
- a identidade e a fragmentação do eu contemporâneo
- a arte na era da reprodução técnica: perda da aura e ready made; fotografia
- do teatro para a rua: a performance
- a centralidade do “intérprete” e a diluição da ideia de autor; o trabalho de equipa e a criação interactiva
- da tela para o corpo: a body art
- do estúdio para a natureza: a land-art
- a incapacidade de fixar o rosto: retratística. O exemplo paroxístico de Francis Bacon
- arte e novas tecnologias: estamos todos a entrar numa realidade nova, passando todos de espectadores a actores
- interaccionismo simbólico: o enriquecimento da vida de todos os dias, a comunicação mecânica e a comunicação sensível; as imagens-nuas e as pequenas percepções
3º dia: A arte e o arquivo
- a obsessão patrimonial: a arte e o seu registo, nomeadamente as artes performativas sem apoio “escrito” (uma cultura que se liberta do logocentrismo, da centralidade do escrito, e volta a privilegiar a oralidade, a performatividade)
- a ideia da vida como um arquivo de si mesma: carácter paradigmático do olhar turístico, que já só regista e não vê
- a necessidade de percebermos que a nossa cultura européia ocidental é tão exótica como as outras todas, estando obcecada com a fixação, com a nostalgia da perda. É psreciso fazer a psicanálise da obsessão arquivística
- nada do que fica dito visa desvalorizar o registo, desde que entendido ele próprio como posicionado, como recriação, e como matéria-prima de trabalho. Nunca tivemos, graças à reprodução, ao museu, aos media, às facilidades de edição, e sobretudo à rede internética (que, sem dúvida, também causa situações de dependência e de fetichismo) tantas possibilidades como hoje de nos podermos informar e ter uma experiência diversificada e autónoma. Esta experiência não deve ser só considerada ao serviço do individuo, mas como um serviço público. A luta contra o elitismo tendencial de todos os “espaços de canonização da cultura”, reconhecendo embora que não podemos passar sem eles.
VOJ
Dez. 2006
VIDA, ARTE E ARQUIVO – A OBSESSÃO DE FIXAR UMA MEMÓRIA DO EFÉMERO
Este seminário trataria das relações do vivido, do expressivo (arte) e da memória de ambos, ou seja, o seu registo e a sua reprodução. Tema potencialmente vastíssimo.
1º dia: A arte saída da vida
- quando as imagens começaram a sair da pedra (“pré-história”)
- a transmutação dos rituais em actos expressivos intencionais – religião formal, teatro, passagem de cenários improvisados a cenários fixos (arquitectura)
- o que é o acto de criação
- por que é que a sociedade ocidental “inventou” a arte, a sua história, a sua conservação/arquivação (museu)? A arte sobreviveu à sua “morte” anunciada nos inícios do séc. XX?
- A criação do artista e do seu público/mercado, a individualização, a separação da arte em relação ao artesanato e à “técnica”
- o jardim: microcosmos como éden e como a antítese da “natureza virgem”
- pode a vida ser vivida como uma “obra de arte”? ou seja, que valor acrescenta “o artista” à vida? Por que é que a arte e a cultura continuam a ser importantes motores da acção humana e da própria economia, estando mesmo no centro da economia contemporânea do signo (mercantilização global de tudo)
2º dia: A arte saída da moldura
- a identidade e a fragmentação do eu contemporâneo
- a arte na era da reprodução técnica: perda da aura e ready made; fotografia
- do teatro para a rua: a performance
- a centralidade do “intérprete” e a diluição da ideia de autor; o trabalho de equipa e a criação interactiva
- da tela para o corpo: a body art
- do estúdio para a natureza: a land-art
- a incapacidade de fixar o rosto: retratística. O exemplo paroxístico de Francis Bacon
- arte e novas tecnologias: estamos todos a entrar numa realidade nova, passando todos de espectadores a actores
- interaccionismo simbólico: o enriquecimento da vida de todos os dias, a comunicação mecânica e a comunicação sensível; as imagens-nuas e as pequenas percepções
3º dia: A arte e o arquivo
- a obsessão patrimonial: a arte e o seu registo, nomeadamente as artes performativas sem apoio “escrito” (uma cultura que se liberta do logocentrismo, da centralidade do escrito, e volta a privilegiar a oralidade, a performatividade)
- a ideia da vida como um arquivo de si mesma: carácter paradigmático do olhar turístico, que já só regista e não vê
- a necessidade de percebermos que a nossa cultura européia ocidental é tão exótica como as outras todas, estando obcecada com a fixação, com a nostalgia da perda. É psreciso fazer a psicanálise da obsessão arquivística
- nada do que fica dito visa desvalorizar o registo, desde que entendido ele próprio como posicionado, como recriação, e como matéria-prima de trabalho. Nunca tivemos, graças à reprodução, ao museu, aos media, às facilidades de edição, e sobretudo à rede internética (que, sem dúvida, também causa situações de dependência e de fetichismo) tantas possibilidades como hoje de nos podermos informar e ter uma experiência diversificada e autónoma. Esta experiência não deve ser só considerada ao serviço do individuo, mas como um serviço público. A luta contra o elitismo tendencial de todos os “espaços de canonização da cultura”, reconhecendo embora que não podemos passar sem eles.
VOJ
Dez. 2006
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