segunda-feira, 11 de agosto de 2008

Waiting for Susana in the middle of nowhere




Tomei banho para te esperar no Douro.

Limpei o melhor que pude todos os caminhos
Por onde havias de passar.
As rodas do carro que mataram a cadelinha
que se me meteu ao caminho sem que eu pudesse parar.
As imagens dos espelhos retrovisores
em que ainda vi a sua agonia, com uma patinha no ar.

Vesti uma T-shirt nova para te esperar no Douro.
E avancei pela linha como um rapaz à espera do comboio que te trazia dentro.
Avancei pelos carris, para te esperar na estação anterior;
Mas aí ainda estavam pingas do sangue, e olhei o Douro para lavar
O olhar.

Esperei-te no meio do nada como quem espera um touro
Em fato de luzes.
Esperei-te com o vento levando lantejoulas à minha frente,
Espalhando a minha água de colónia e embriagando os pássaros.

Com uma flor numa mão arrancada ao caminho
E um bolo de amêndoa noutra, comprado na ignota pastelaria.
Colei uma orelha aos carris sujos para antecipar a tua vinda
Não fossem as flores secarem, e o bolo desfazer-se dentro do pacote.

Dentro de um país de brutos, entre falésias brutais,
Esperei-te, ó Civilizada, ó portadora do sublime.
Como um suicida deitei-me na estação
Para ter a certeza do teu impacte, quando chegasses.

Afastando o pó dos sapatos, sacudindo a poeira dos últimos dias,
Ajustando o chapéu mil vezes entre as mãos suadas.

Ninguém soube nada disto, nem talvez tu
Te tenhas apercebido, e talvez tenhas continuado a marcha
Em frente às tuas fantasias.

Talvez eu ainda te esteja esperando no Alto Douro,
Sentado num banco de estação,
Entre falésias que enegrecem, numa terra de brutos,
Segurando as flores supremas da nossa união,
Da nossa incrível soberania.

Ao lado de um sinal de Stop
Que nem o comboio respeitou.

Não sei se
Chegaste a chegar.
É isso que importa, é isso que as águas do Douro
Lavam nas rochas empedernidas
Para tentar fazer desaparecer todos os vestígios.

























palavras e imagens de voj 2008

Sem comentários: