este é o meu corpo.
este é o meu gato.
este é o meu olhar.
este é o meu sapato.
este é o meu sexo.
esta a parede a que me encostaram
pedindo-me para lhe dar um nexo.
este é o meu olhar.
estas as mnhas pernas.
estes os bicos com que levanto o tempo
que falta até à hora da minha morte.
estas as velas; esta a missa;
este o cadáver;
e este o gato empalhado
e por isso tão vivo, e ágil,
que mal o seguro no texto.
este é o meu género, sim senhor,
esta a hora da noite em que tudo desagua
e as pernas se erguem altas
como as árvores altas do dia.
esta a figura que faço.
este é o meu número,
mas seguem-se mais atracções;
aqui há toda a sorte de palhaços,
de anões, de mulheres barbudas,
de trapezistas desbotadas.
a festa não acaba
o melhor está para vir,
o cúmulo da apoteose,
as luzes sublimes
de parafina azul,
os corredores de veludo
que levam aos quartos,
o champanhe, tudo isso.
o ritual que nunca fatiga.
este é o meu sexo,
este o movimento da minha dança
esta a sedução que se consegue
aqui na província.
soem pois as gaitas de foles
que a festa é popular
e a mim já me enconstaram à parede:
vou na turbamulta dos foliões.
este é o meu país, a minha carne,
as minhas pernas abertas,
o meu animal de companhia,
aqui tenho tudo do melhor para anunciar.
lâmpadas que são estas.
luzes que me cercam.
pó de arroz e rimmel
suor e, admito, algum cansaço:
mas ainda vai uma uma
com um pouco mais de bagaço.
voj 2008
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Foto: Ernesto Timor
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