sábado, 1 de dezembro de 2007

tombo






Fotos: Diana Diriwaechter
Fonte: http://www.dianadiriwaechter.com/gallery/index.html





t
u sabes que és a única a quem eu chego
a única a que desde sempre chego,

sala íntima de onde parti;

mas tu sabes também
que para eu conseguir voltar

para conseguir realcançar
essa câmara única,

precisarei sempre de todas as outras

- tal como tu, também;

porque é por elas que tu
me possuis sempre;

e é também na companhia delas
que o meu punho
te entra por debaixo,
te agarra o coração,
te explora a pleura
até ao ápice;

e só assim o corpo único,
ensanguentado,
pode morrer,

escorrendo pendurado
em estremeções tremendos
das altas alturas.

por isso lá no cimo

estaremos todos juntos;

quando os frescos
preencherem
com o seu êxtase,

com a sua tinta bruta,

a totalidade,
sempre em tombo,
das abóbadas:
a plenitude das suas superfícies

inundadas pela voracidade,
pela urgência
das cores,

quando estas se imiscuirem
em todas as frinchas,

e descerem em torrente,
músculo a músculo,

saia a saia,

parede a parede,

sempre escorregando,
sempre de novo subindo;

até à extensão final,

até à nossa cama íntima,
única de facto,

posta no veludo grená
das origens,

na ordem cósmica
das almofadas;

rodeada de figuras
comparecentes,

imagens da bondade malvada
da completude:

- de onde, talvez,

nunca
eu tenha chegado a partir.


voj 2007

2 comentários:

Anónimo disse...

Eu sei.

Anónimo disse...

Eu também sei. Quantas pensarão que sabem? É para criar efeitos!