sábado, 10 de novembro de 2007

invocação da ausência


Foto: Eric Pritchard
Fonte: http://www.eapfoto.com/

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invocação da ausência

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de que vale a minha voz no meio do universo?
se ergo a minha voz,
quem me ouve, quem
me responde?

que vale o meu cântico entre os templos negros,
cobertos de raízes?
se ergo o meu cântico,
que corpos sairão da pedra
e dançarão sobre os pavimentos?

vê como estou só
diante de todas as galáxias, e estrelas,
e pergunto:
se erguer a minha sítara
e encontrar as notas certas
de que mares longínquos agitarão
elas as vagas?

chegará alguma vez o meu apelo
a algum porto,
assumará a alguma janela
o rosto perfulgente?
e como saberei se esse
é aquele que veio em minha procura,
o eco que me responde?

vê.
estou sentado no pavimento azul.
sobre o tapete da noite.
apenas tenho a minha voz,
o braço da sítara.
quem me ilumina na minha cegueira
quem me chega às pálpebras
o candelabro aceso,
quem me traz o cofre das estrelas?

quem traz a estes braços
feitos para abraçar o amor,
quem traz ao meu peito
o repouso
do rosto pacífico,
totalmente rendido na sua
amizade?

abro o livro, e canto, e repito
as mesmas frases, a mesma prece:
perante as mesmas árvores,
sob a copa frondosa das
mesmas grandes árvores.

quem saberá o que estão a dizer há séculos,
quais as notas que nelas o vento toca,
quais as danças que encetam
quando o sono vence o músico?

oh árvores, que chegais às estrelas,
que tocais na barba dos deuses,
oh pés adolescentes que desenhais no chão
as geometrias do universo

apresentai-vos, dizei-me ao menos
uma vez
que vou no caminho certo,
que continuando a repetir o mesmo canto
a mesma prece, o meu torvelinho,

esta espiral me conduzirá ao interior do mundo,
ao coração do grande unicórnio,

o que tem o segredo, dizem,
e ocupa a sala maior do palácio,
parado no seu centro,
há séculos!

pois cantando, salto
como macaco, voo como cor
de ave, fluo como pio
da madrugada,
orno-me de flores,
sou o grande elefante que se senta
sobre o tapete do universo.

acendo candeeiros,
mando a mulher entoar
as canções que acompanham a preparação
dos óleos, a perfumadura dos leitos!

caminho banhado para o beijo
para a longa sucção da língua,
para o beijo que explora
todas as reentrâncias!

deslizo sobre os pavimentos
calco pela milésima vez
as pegadas da ausência,
o polimento dos passos anteriores.

e repito, cantando alto,
tocando as tablas até as mãos doerem,

de que vale a minha voz no meio do universo?
se ergo a minha voz,
quem me ouve, quem
me responde?

eu o poeta, eu o que canta,
eu o que se senta entre os tigres vivos
e convive com os insectos,
eu o que está em frente à luz,
virado sobre o universo:

ninguém me escuta?



voj 2007

4 comentários:

Anónimo disse...

se ergo a minha voz,
quem me ouve, quem
me responde?

e quando a gente responde voce nao diz nada...

Vitor Oliveira Jorge disse...

você, quem?
o autor do poema ou o cidadão voj?
Que triste "dialogar" com anónimos... e que falta de noção do que é poesia, tenha paciência!
A poesia é um trabalho, e mesmo quando é na primeira pessoa não é de mim que se trata, santos deuses!
o Cidadão voj é um comunicador, um dialogante, e dá a cara em todo o lado onde pode e onde é pertinente.

Anónimo disse...

TRISTE!

Vitor Oliveira Jorge disse...

Está triste?