1
esse teu movimento
de camponesa despida
trazendo-me os lábios e os seios
a sua cor vermelha
como se fosse
uma colheita de maçãs
luzidias
esse à-vontade
com que te aproximas nua,
com o sol ruivo
a desdobrar-se em fios, em
pequenos novelos,
como uma decoração
entre as pernas
esse teu ar atrevido
de quem vai proceder
à coisa mais natural deste mundo
2
apresentas-te como
um ninfa, uma estátua serena,
com um pé nu à frente
e toda tu atrás, resoluta e
natural como uma miúda
iniciando um jogo
e sorris abertamente
como uma estação
que se abre, fulva,
como se o que se vai passar
fizesse parte dos prados
e laranjeiras, e hortos
caminhas para mim
e sideras-me totalmente
esse modo de cruzares os braços
para erguer a blusa
essa forma de te destapares sorrindo
3
lanças-me a língua
ao sexo
como se fosse a primeira vez
e uma romã, ou framboesa
fosse o sabor
por que o teu palato aspira
com curiosidade
lanças-me esse olhar
de confirmação
enquanto me contorço
e da janela entrevejo
o estalido das romãs
a abrir
4
ofereces-te agora
de costas
com os cabelos descendo
quase até às nádegas
agarro aí o sol do poente
os silvos dos pássaros
e cheiro pela primeira vez
todo o teu corpo,
a pele, os seus
pequenos pêlos fulvos
sinto
a modulação das colinas
o modo como a boca
desce para os vales
a água
o estremecer
de músculos
5
dobro-te toda
os calcanhares rosados
pequenos sinais nas ancas
os joelhos contra os seios
aperto-te
quase te desfaço
com se te quisesse reduzir
a um passarinho
que pudesse engolir
mas tu logo
com um gemido
te desdobras de novo
e pairas sobre mim,
dominas-me o ventre
trincas-me de novo
e um pardal foge da janela
6
e nestas coisas andamos
enquanto pelo quadrado
da porta
as luas e os sóis se sucedem
como se a nudez
nos imunizasse do tempo
e dos intrusos
e os próprios relógios
nos olhassem com o respeito
de não interromper
ao longe, sobre
um dos braços do maple
o teu soutien
e sobre outro a camisa
interior
ganham eternidade
7
é inevitável
o odor das ovelhas
e o do leite
que escorre
a paragem dos copos
as gargalhadas
a minha cabeça passando tardes
sobre o teu rabo
ouvindo-te
o fluxo do sangue
as pulsações
e os movimentos súbitos
que mudam
e trazem de novo os lábios
uma fulva humidade
uma paz imensa
8
viro-te sobre a cama
como se fosse ordenhar-te
penetro-te por detrás, fundo,
num súbito arremedo
e os lençóis ondulam
em luzes e sombras
como a superfície da areia
quando a água recua
viras a cabeça
para me interpretares
e vês as narinas dilatadas
a captar os odores todos
de dentro e de fora
o teu balido como ovelha
9
cavalgas-me
e em torno dos mamilos
giram as pequenas
framboesas
macias
enquanto a expressão
se te altera
está um cavalo a espreitar
de olhos muito abertos
silencioso
os êmbolos trabalham
com a lentidão e segurança
dos moinhos de água
as tuas duas nádegas
abrem-se ao cavalo
às mãos transtornadas
10
qualquer coisa abre
irrompe
é a fonte que dá
de beber aos caules
é a seiva a transcorrer
nos vasos verdes,
transparentes
são os olhos das ovelhas
muito abertos
é a lã, o seu odor,
os pássaros a subirem-me
pelo sexo
é o quarto todo
que circula em torno
são os sulcos rasgados
por onde escorre, serena,
a conclusão
Vítor Oliveira Jorge
25.1.10
esse teu movimento
de camponesa despida
trazendo-me os lábios e os seios
a sua cor vermelha
como se fosse
uma colheita de maçãs
luzidias
esse à-vontade
com que te aproximas nua,
com o sol ruivo
a desdobrar-se em fios, em
pequenos novelos,
como uma decoração
entre as pernas
esse teu ar atrevido
de quem vai proceder
à coisa mais natural deste mundo
2
apresentas-te como
um ninfa, uma estátua serena,
com um pé nu à frente
e toda tu atrás, resoluta e
natural como uma miúda
iniciando um jogo
e sorris abertamente
como uma estação
que se abre, fulva,
como se o que se vai passar
fizesse parte dos prados
e laranjeiras, e hortos
caminhas para mim
e sideras-me totalmente
esse modo de cruzares os braços
para erguer a blusa
essa forma de te destapares sorrindo
3
lanças-me a língua
ao sexo
como se fosse a primeira vez
e uma romã, ou framboesa
fosse o sabor
por que o teu palato aspira
com curiosidade
lanças-me esse olhar
de confirmação
enquanto me contorço
e da janela entrevejo
o estalido das romãs
a abrir
4
ofereces-te agora
de costas
com os cabelos descendo
quase até às nádegas
agarro aí o sol do poente
os silvos dos pássaros
e cheiro pela primeira vez
todo o teu corpo,
a pele, os seus
pequenos pêlos fulvos
sinto
a modulação das colinas
o modo como a boca
desce para os vales
a água
o estremecer
de músculos
5
dobro-te toda
os calcanhares rosados
pequenos sinais nas ancas
os joelhos contra os seios
aperto-te
quase te desfaço
com se te quisesse reduzir
a um passarinho
que pudesse engolir
mas tu logo
com um gemido
te desdobras de novo
e pairas sobre mim,
dominas-me o ventre
trincas-me de novo
e um pardal foge da janela
6
e nestas coisas andamos
enquanto pelo quadrado
da porta
as luas e os sóis se sucedem
como se a nudez
nos imunizasse do tempo
e dos intrusos
e os próprios relógios
nos olhassem com o respeito
de não interromper
ao longe, sobre
um dos braços do maple
o teu soutien
e sobre outro a camisa
interior
ganham eternidade
7
é inevitável
o odor das ovelhas
e o do leite
que escorre
a paragem dos copos
as gargalhadas
a minha cabeça passando tardes
sobre o teu rabo
ouvindo-te
o fluxo do sangue
as pulsações
e os movimentos súbitos
que mudam
e trazem de novo os lábios
uma fulva humidade
uma paz imensa
8
viro-te sobre a cama
como se fosse ordenhar-te
penetro-te por detrás, fundo,
num súbito arremedo
e os lençóis ondulam
em luzes e sombras
como a superfície da areia
quando a água recua
viras a cabeça
para me interpretares
e vês as narinas dilatadas
a captar os odores todos
de dentro e de fora
o teu balido como ovelha
9
cavalgas-me
e em torno dos mamilos
giram as pequenas
framboesas
macias
enquanto a expressão
se te altera
está um cavalo a espreitar
de olhos muito abertos
silencioso
os êmbolos trabalham
com a lentidão e segurança
dos moinhos de água
as tuas duas nádegas
abrem-se ao cavalo
às mãos transtornadas
10
qualquer coisa abre
irrompe
é a fonte que dá
de beber aos caules
é a seiva a transcorrer
nos vasos verdes,
transparentes
são os olhos das ovelhas
muito abertos
é a lã, o seu odor,
os pássaros a subirem-me
pelo sexo
é o quarto todo
que circula em torno
são os sulcos rasgados
por onde escorre, serena,
a conclusão
Vítor Oliveira Jorge
25.1.10
1 comentário:
Que maravilha de sequência!! Adorei...beijos.
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