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toca.
toca-me.
com a ponta de um dedo.
com o bico da língua.
quero sentir-te
nos tímpanos.
quando acender as tochas.
os pavios
nas palmas, no centro.
nas conchas côncavas.
toda a minha música
é uma espécie
de longo chamamento.
ouves estas percussões
altas como troncos
convergindo?
não têm qualquer sentido;
são apenas jogos adultos
como qualquer ciência.
vês estas polpas de lítchias
a abrir e a fechar?
esta gordura que escorre
das mãos sobre os tambores?
pois é isso, só isso.
percussões, forças desvairadas
esvoaçando em todas as direcções,
o deserto do mundo
e depois mais nada.
há demasiadas crianças mortas.
demasiadas jovens boiando à tona
nos quadros pacientemente pintados
vogando no vácuo dos museus.
demasiados crimes.
demasiado desencanto quando te peço:
faz-mo, sim, toca, engola, trinca, deglute.
quero sentir ao menos o cheiro do sangue
quer ver as minhas próprias guelras
sobre a tábua.
toca, tem um momento
de humanidade.
prepara-me em prato,
serve-me.
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texto: voj 2008
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Foto: Grace Ho
Fonte: http://www.graceoh.net/portfolio.html
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