domingo, 29 de junho de 2008

a "aceitação" leva tempo


Uma obra inovadora (no sentido da obra geral de um autor, ou de um conjunto de autores) não tem um público; ela tem de o formar, de o criar


Alain Robbe-Grillet

mentor principal do "Novo Romance", a propósito da reacção de recusa que inicialmente os livros dele e dos seus "compagnons de route" suscitaram (na palestra postada neste blogue, ontem), pressupondo que todo o leitor espera sempre algo de "novo", mas de re-conhecível segundo os padrões a que se habituou. Quando uma obra é verdadeiramente inesperada, diferente, provoca ruptura quase abusiva é ou aparentemente "disfuncional", absurda, a primeira reacção é de indiferença ou rejeição, à excepção de uma muito pequena minoria.
A canonização, a dar-se, chega mais tarde, às vezes muito mais tarde.
É por isso que Lobo Antunes uma vez disse na televisão que não escrevia para agora, mas para daqui a quinhentos anos; a afirmação, que poderia parecer petulante (pressupondo uma celebridade durável para a sua obra) refere-se a essa irritação dos artistas com a temporalidade dos media e do público comum, que desejam saber logo, perceber logo, absorver logo, numa (quase) canibalesca atitude de devoração


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