
estás mesmo a querer coisa.
estás mesmo como um flamingo
em posição de escuta.
estás mesmo a desfolhar
as pétalas todas
sobre a mesa.
estás mesmo
antes de ti
e depois de ti
estás mesmo
a criar um espaço
uma fenda
uma linha rouge.
estás mesmo como um flamingo
a pôr bâton em frente ao espelho.
ai meu deus
estás a picar as pontas
com um apelo.
a perfurar o ar
a história
com a tua fixação.
a abrir as pétalas.
a abrir os grandes lábios
do flamingo
extático.
estás mesmo a pedi-las.
empalada numa perna
e em pleno gozo.
como um sofá grená
abrindo e fechando o umbigo
num esplendor estirado.
estás toda tu
abraçada pelo ar
nas suas mãos
as que andam a violar
o sossego de cada terra,
e depois partem com a viola
ao ombro, malandras,
rodeadas de flamingos.
vivem de incendiar
estações de serviço
em que os carros estão assim
mesmo a pedi-las
brilhantes como uma cabina
no meio do deserto.
esticados. ao alto.
como postes de telégrafo.
como índios roxos.
com os seus cocares grenás.
grandes flamingos sexuais.
voj 2008
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Foto: Grace Ho
Fonte: http://www.graceoh.net/portfolio.html
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