Transferência "(...) A PSICANÁLISE INVENTOU DE FACTO UMA NOVA FORMA DE AMOR CHAMADA TRANSFERÊNCIA." JACQUES-ALAIN MILLER (Lacan Dot Com)
quarta-feira, 23 de janeiro de 2008
mesmo
por vezes queria abrir isso
como um fruto;
apartar os bolbos,
com as duas mãos abrir pelo meio
com casca e tudo
por vezes queria ir ao mais fundo
sem perguntas pelo meio
com nojo e tudo
por vezes queria rachar uma noz
que tivesse crescido em polpa
e ao meio levantasse um poço
onde a voracidade se desprevine
por vezes queria trabalhar de novo
só com mãos, erguer um cavalo,
uma hóstia sangrenta
uma manhã eucarística
cheia de folhos e penas e saias e asas
em pleno campo, ao meio, no poço
a minha mística tem os pés
assim sujos de terra,
e flores primitivas, árduas,
que crescem entre os dedos,
no esplendor solar das abóboras,
no seu interior adivinhado,
emaralhando-se nos caules.
enquanto no horizonte as cortinas
dançam num apelo eterno,
num cântico ininterrupto,
quase em agonia,
escondendo talvez os bolbos,
as invisíveis dilatações:
volta, volta, racha-nos
com toda a possível
brutalidade.
mesmo ao meio.
e repetem, repetem incansavelmente,
e de cada vez que o fazem toca um sino;
e dá-se a erecção subtil das forças,
das nervuras, das veias.
talvez isso
não possa durar sem ser aberto,
alvo de uma esplendorosa
profanação.
ser pegado em mãos,
erguido repetidamente no ar:
sanctus, sanctus, sanctus.
um poço: um templo; uma liana
que caminha sobre os séculos.
nada de corpo, apenas a coisa
em si, a geometria dos campos,
as forças, as fórmulas tensas
de resolução:
uma necessidade absoluta
de destruição, no âmago.
uma figura totalmente violada;
irreversivelmente.
e no entanto
sempre ausente,
mesmo ao centro.
voj 2007
Fonte da foto: http://www.pjreptilehouse.com/
autor: mark pj reptilehouse
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4 comentários:
o poema é lindissimo...
Obrigado: respondo eu à face oculta.
basta saber que sou uma grande admiradora sua...
Você decide...e obrigado.
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