quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

sonho para pequeno-almoço

Um campus universitário dotado de tudo quanto fosse necessário para aprender. Cheio de árvores, e pássaros, e esquilos.
Um conjunto de funcionários amáveis, dispostos a facilitar o meu trabalho, quer dizer, a fazer o deles deixando-me tempo para o que eu sei fazer.
Uma conferência por semana a que valesse a pena assistir, e com cujo(a) autor(a) valesse a pena despender tempo.
Uma aula, ou seminário, ou mesa-redonda, para pessoas preparando doutoramento ou pós-doutorados. Uma só por mês, bem preparada por todos.
Um pequeno "estúdio" no campus onde pudesse viver contigo, ou pelo menos encontrar-me contigo quando quiséssemos.
Um "tu" que prosseguisse nesse campus um projecto diferente do meu, claro, mas interessante para o meu, obviamente. E para o qual o meu projecto fosse vital.
E de vez em quando, sem se imporem, sem telefonarem, sem mandarem mails, um grupo de amigos que aparecessem tão naturalmente como os esquilos, como os pássaros, como as árvores.
Respeitando a privacidade de cada um de nós.
Respeitando o que de mais belo pode haver entre dois seres humanos: a sua cumplicidade quase edénica.
Respeitando o nosso trabalho, o projecto de cada um de nós.
Nunca confundindo respeito com autoridade, submissão, ou menoridade: respeitando-nos a nós porque respeitando-se a si mesmos, cada um deles.
O tempo é precioso, já que estamos vivos.
Precioso para quê? Para criar, para compreender.
Que é criar, que é compreender? É ter o prazer mais duradouro de confronto com uma espécie de "verdade insofismável" impossível de definir globalmente. Não contemplar ou admirar a beleza, ser transportado por ela.


8 comentários:

Anónimo disse...

"Realidade ao almoço"

Um campus universitário dotado do necessário a aprender, professores e alunos, tudo o resto depende do gosto de cada um e o melhor é essas escolhas ficarem para o fim-de-semana.
Um conjunto de funcionários nem sempre amáveis,nem sempre dispostos a facilitar o trabalho do corpo docente porque simplesmente ganham demasiado mal para se preocuparem. Na verdade tendo em conta o que ganham o mais provável é nem terem fins-de-semana.
Uma conferência de muito longe a longe que nem sempre vale a pena assistir porque o autor não diz nada de novo pensando que diz.
Uma aula, ou seminário, ou mesa-redonda, para pessoas preparando doutoramento ou pós-doutorados. Uma só por mês, bem preparada por todos seria impossível pois não fariam o doutoramento. Despenderiam todo o seu tempo preparando os temas e no fim o doutoramento era uma compilação das aulas.

Cada um segue a sua própria linha de pensamento, ou seus projectos e as suas ideias nem sempre necessitando daqueles que o rodeiam , nem sempre querendo encontrar-se com aqueles que o rodeiam pois o perturbam na sua própria forma de estar e pensar.

E de vez em quando, temos a sorte de encontrar alguém que teima em aparecer, em telefonar, em querer saber se estamos bem e com o qual nos encontramos de vez em quando criando um momento único de alegria e amizade.
Quando a universidade, a sociedade, as pessoas no geral, não correspondem às nossas expectativas é bom encontrar alguém que simplesmente esteja connosco ainda que nem sempre nos compreenda:
A compreensão cresce na medida em que deixarmos o outro nos descobrir.

Patrícia Amaro

José Manuel disse...

à primeira vista parece um quadro sedutor, mas ...(há sempre um mas)

Uma universidade isolada do mundo e da sociedade em que se insere parece-me uma ideia um pouco ensossa.

O campus não é mais do que uma nova versão do velho refúgio do claustro. Excelente como refúgio para ler e escrever, desde que seja com um prazo limite.

Vitor Oliveira Jorge disse...

Isto era só um sonho...
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O doutoramento é em larga medida, pelo menos em Letras, um trabalho solitário de reflexão (refiro-me à escrita, não necessariamente à pesquisa, claro - mas só quando começamos a escrever nos apercebemos do que podemos ou não fazer...). E a certa "solidão" a que aludia na postagem era mais do lado do professor (vamo-nos ganhando consciência dessa solidão radical, para bem e para mal, à medida que avançamos no tempo) do que dos seus interlocutores.
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Não, respeito muito a criatividade pessoal de cada doutorando, ou de cada investigador em geral. É aí que está obviamente o valor de cada um.Eu ainda sou do tempo dos doutoramentos que levavam 10 anos a fazer... mas a "filosofia" mudou, o que não estaria mal se as pessoas tivessem condições para continuar a trabalhar e a desenvolver-se.
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Muito de acordo com quase tudo o que diz.
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Ainda bem que tem encontrado teimosos que afinal valem a pena!
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Sem dúvida quanto ao último parágrafo. Nos acontecemos no diálogo, desde talvez antes de nascermos, e com certeza sempre depois. Creio que a compreensão está muito ligada a uma enorme tolerância, mas esta advém de uma grande admiração pelo outro. O outro tem de ser de facto uma pessoa que não nos des-iluda totalmente, mas que vá mudando as razões da ilusão. É difícil.

Vitor Oliveira Jorge disse...

Não presssupus que fosse isolada... pressupuz que hoje um dos maiores bens que nos tiraram foi o espaço e o tempo, o silêncio. Mas esse recuo não é o de monge, mas apenas o daquele que não quer cair na superficialidade. Para monge nunca tive jeito (nem mesmo com umas fantasias de túneis que comunicariam com outros mosteiros, etc). Gosto muito de claustros. Inclusivamente alguns dos mais belos Paradores de Espanha têm claustros lindos. E o claustro é afinal o espaço da intimidade da casa mediterrânea, até "árabe". Mas também não queria viver nem num harém nem numa Tóquio, Nova Iorque ou Bombaim. Qu'horror, como abrevia uma amiga nossa!
Há de facto com,o toda a gente sabe e sente uma contradição entre os prazeres ditos da carne (que implicam certa preguiça, certo deixar-se ir) e os ditos do espírito (que implicam certo controlo). Cada um tem de encontrar o seu equilíbrio neste maldito dilema, sendo que uma bela mulher e um belo livro são ambos vivências interessantes... até para realizar num claustro (sobretudo aí, mas com confortos modernos, que antigamente apanhava-se muito frio, etc.) A realidade a que temos de estar atentos distrai-nos de coisas tão boas! Sorte malvada!!

Vitor Oliveira Jorge disse...

A minha penúltima mensagem é uma resposta à Patrícia, a última ao Zé.
Nem sempre há tempo para desenvolver neste contexto apertado de janelas algo de realmente interessante... apenas tem a grande vantagem da pessoa ter uma ideia e vir aqui apontá-la no bloco... expondo-a, expondo-se, inevitavelmente encenando-se, como em todos os outros momentos da vida. O mais interessante , ou o que o que escreve julga mais interessante, transborda do blogue, e quando muito pode ser sugerido nalgum poema mais feliz.
Gostava de ser David Lynch e poder fazer um filme ainda melhor do que os dele. Querer superar os que muito admiramos é o maior elogio! Só dá pica quando a fasquia está alta... o resto é a espuma dos dias.

Anónimo disse...

Admirar é amar com o intelecto.
Eu acho que percebi o seu sonho e também gosto de sonhar e obviamente que o faço. Mas quem tem um blogue, penso eu, que deseja alguma resposta e assim as respostas surgem como contraposição, pois como concordância não vale a pena.
Eu sei que a universidade tem muitas maleitas mas no final, digo-lhe como aluna, o que realmente sempre me fascinou foi os professores. Tudo o resto é dispensável mas um bom professor é simplesmente insubstituível.
A capacidade que um professor tem de captar a atenção do aluno e de o transformar não deve ser nunca esquecida. Na sua instituição tive uma professora que disse que pensava que o ensino é um jogo de sedução. Para ela o professor tinha que "seduzir" o aluno. Eu pensei para mim, nunca lhe disse o que pensava, que o aluno tem também importância mantendo-se atento e cooperante. É claro que tive maus professores mas os bons compensaram os maus. E olhe que os maus eram mesmo maus... Não no sentido de não saberem o que estavam a dizer e a ensinar mas simplesmente viam o aluno como uma coisa que para ali fica, sem valor. Um professor que eu sentisse que agia dessa forma simplesmente perdia todo o meu interesse. Eu continuava a ir às aulas e a estudar mas o tédio de ter uma aula dessas é insuportável.
Gostei é claro do seu sonho, tirando os esquilos, acredito na amizade e numa amizade que se renova todos os dias e que nunca é um jogo de submissão ou servilismo. É claro que é difícil e por vezes somos enganados, aqueles que não consideramos servilistas afinal descobrimos que o são. penso que é ainda mais difícil para um professor que se vê rodeado de alunos todos os anos mas enfim... cada um com a sua realidade vivendo-a como pode.
De facto esta janela é um pouco pequena para escrever, na "Realidade ao almoço" optei por fazer copy-paste do seu texto e modificá-lo, como deve ter dado conta.
São as novas tecnologias ao nosso dispor.

Patrícia Amaro

Vitor Oliveira Jorge disse...

Fazendo também copy/paste e tentando prosseguir o nosso diálogo (por que não através de mail? Sempre ú uma janelinha maior...):

Admirar é amar com o intelecto.

NÃO DIVIDIRIA MUITO O INTELECTO E A EMOÇÃO, CREIO QUE É UMA DICOTOMIA JÁ UM POUCO DESGASTADA...


Eu acho que percebi o seu sonho e também gosto de sonhar e obviamente que o faço. Mas quem tem um blogue, penso eu, que deseja alguma resposta e assim as respostas surgem como contraposição, pois como concordância não vale a pena.

CLARO.

Eu sei que a universidade tem muitas maleitas mas no final, digo-lhe como aluna, o que realmente sempre me fascinou foi os professores.

TAMBÉM A MIM, ALGUNS. E CONTINUAM,POIS QUANDO ESCUTO UM CONFERENCISTA PERFEITO É COMO SE ESCUTASSE UM GRANDE CANTOR, POR EX.

Tudo o resto é dispensável mas um bom professor é simplesmente insubstituível.
A capacidade que um professor tem de captar a atenção do aluno e de o transformar não deve ser nunca esquecida. Na sua instituição tive uma professora que disse que pensava que o ensino é um jogo de sedução.

SEM DÚVIDA... HÁ UMA POSTAGEM NESTE BLOGUE SOBRE ISSO...MAS SE NÃO HOUVER ESTA COMPONENTE, A QUE FIXAMOS REDUZIDOS? A NOSSA SOCIEDADE ESTÁ
PARASITADA POR AUTOMATISMOS.ALGUNS PRODUZEM CONFORTO E SEGURANÇA, MAS PAGAMOS ISSSO MUITO CARO.

Para ela o professor tinha que "seduzir" o aluno. Eu pensei para mim, nunca lhe disse o que pensava, que o aluno tem também importância mantendo-se atento e cooperante.

1.000% DE ACORDO. OS ALUNOS "FAZEM" TANTO A AULA COMO O PROFESSOR... DIRIA ATÉ QUE FAZEM MAIS, PORQUE O PROFESSOR É SÓ UM... COM BONS ALUNOS, ESTIMULANTES, O QUE NÃO SE PODE DESCOBRIR, FALANDO!!! UM BOM ALUNO É PARA O PROFESSOR UMA BENESSE. E, ALÉM DISSO, UM BOM ALUNO É UMA PESSOA QUE NÃO QUER ELOGIAR NEM CONTESTAR, QUER SIMPLESMENTE DESCOBRIR-SE, QUE O AJUDEM A DESCOBRIR-SE, A CONSTRUIR-SE COMO PESSOA.

É claro que tive maus professores mas os bons compensaram os maus. E olhe que os maus eram mesmo maus...

TAMBÉM TIVE A MINHA DOSE...

Não no sentido de não saberem o que estavam a dizer e a ensinar mas simplesmente viam o aluno como uma coisa que para ali fica, sem valor. Um professor que eu sentisse que agia dessa forma simplesmente perdia todo o meu interesse. Eu continuava a ir às aulas e a estudar mas o tédio de ter uma aula dessas é insuportável.

EU, EM CERTOS CASOS, ACABEI POR NÃO IR A CERTAS AULAS. NESTA VIDA É FUNDAMENTAL UMA CERTA GESTÃO DA DESOBEDIÊNCIA, SENÃO TRANSFORMAMO-NOS EM AUTÓMATOS OU EM FRUSTRADOS IRREVERSÍVEIS. A MEDIOCRIDADE EMPOLADA FAZ MAL À SAÚDE!!

Gostei é claro do seu sonho, tirando os esquilos,

NÃO GOSTA DOS BICHINHOS?...

acredito na amizade e numa amizade que se renova todos os dias e que nunca é um jogo de submissão ou servilismo. É claro que é difícil e por vezes somos enganados, aqueles que não consideramos servilistas afinal descobrimos que o são. penso que é ainda mais difícil para um professor que se vê rodeado de alunos todos os anos mas enfim...

UM PROFESSOR É UM PROFISSIONAL, TAMBÉM, DA DESILUSÃO.PODERIA ESCREVER UM LIVRO SOBRE ISSO...

cada um com a sua realidade vivendo-a como pode.
De facto esta janela é um pouco pequena para escrever, na "Realidade ao almoço" optei por fazer copy-paste do seu texto e modificá-lo, como deve ter dado conta.
São as novas tecnologias ao nosso dispor.

É O QUE EU FAÇO. MAS HÁ TAMBÉM O MAIL,E TENHO MUITO GOSTO DE A CONHECER, SE O DESEJAR. AS MINHAS COORDENADAS ESTÃO À VISTA! É SÓ PROCURAR-ME NA FLUP. N UNCA É PERDER TEMPO CONTACTAR COM UMA PESSOA INTELIGENTE, SENSÍVEL, C OMO ACREDITO QUE VOCÊ É. ESTA É EM MIM UMA ATITUDE PERMANENTE (JULGO...). APENAS TENTO EVITAR ALGUMAS "CILADAS" QUE ÀS VEZES RESULTAM DE CERTA EXPOSIÇÃO, INEVITAVELMENTE. MAS ESTOU SEMPRE DISPONÍVEL PARA CONHECER UMA PESSOA INTERESSANTE. MAIS: É ISSO QUE PROCURO ATRAVÉS DESTE BLOGUE, E NÃO ANDO À BUSCA DE AVENTURAS, COMO SE DEPREENDE DO QUE FAÇO E ESCREVO.
POR QUE NÃO HÁ-DE ESTE MUNDO REALIZAR UM POUCO DO NOSSO SONHO, QUE É O DE SEMPRE NOS ENRIQUECERMOS, E ISSO PASSA NECESSARIAMENTE PELAS PESSOAS, PELA GRANDEZA E HONESTIDADE E INTELIGÊNCIA DAS PESSOAS, QUE É O GRANDE FACTOR DE INTERESSE. UMA PESSOA CHEIA DE MAZELAS FÍSICAS PODE TORNAR-SE BELA SÓ AO FALAR, E QUANTAS VEZES ENCONTRAMOS GENTE CUJA IMAGEM É ATRAENTE E LOGO A SEGUIR NOS PROVOCA A MAIOR REPULSA... QUANTO MAIS NÃO SEJA PELA DESILUSÃO, PELA APATIA, PELA CONVERSA DE FAZER SONO, PELA BANALIDADE, POR AQUELES TIQUES QUE JULGAM QUE FAZEM EFEITO, PELA VONTADE DE NOS CONTROLAR E DE SE JULGAR IRRESISTÍVEL, ETC...

Anónimo disse...

E já agora, dotar esse campus de professores que estimulem a verdadeira reflexão nos discentes, para que estes não se sintam avaliados pelo método do "metro linear”, onde invariavelmente, numa espiral de matrioskas, sobressaem os monges copistas, dignos sucessores dos seus “mestres”.