Há duas coisas que eu sempre tive como "mitos" (no bom sentido, no sentido de que me ajudaram a viver):
- aprender constantemente com outros e sobretudo aprender com uma companheira. E aqui evidentemente aprender em todos os sentidos.
- aprender por mim e aprender apesar de tudo e com todos – e aqui só tem a ver comigo. Seguir a minha intuição... Sinto-me hoje como se tivesse 20 anos nesse aspecto, acho. Ainda a começar.
É possível mudar? É possível mudar os outros?... Ou só podemos adaptar-nos aos outros?... Há sempre o desejo de mudar um pouco, quer dizer, de deixar nem que seja uma pequena marca no outro.
E se o outro se torna fundamental, então há mesmo o desejo de que o outro veja em nós aquilo que deseja, e isso seja por sua vez visto, percebido, por nós... Este pingue-ponge...
Uma pessoa só adaptar-se aos outros e à realidade em que está imerso é uma atitude passiva. O desejo de poder de que falava o Nietzsche está sempre presente em nós em background... Poder de ser um íman.
Quando uma pessoa entardece na sua vida, essa vontade de sedução vai passando do pólo dominantemente físico (cujas "propriedades de sedução" obviamente diminuem a olhos vistos) para o pólo mental, para persistir numa velha tradição exterior/interior de que a nossa cultura se alimenta.
Por isso é que a relação mestre-discípulo é sempre erótica, como o Ionesco mostra naquela maravilhosa peça dele, A LIÇÃO.
A "erótica" não precisa de estar ligada directamente a mais nada do que a uma série de subentendidos subtis, e não diz obrigatoriamente respeito ao sexo, que é uma mania obsessiva que também a idade nos vai permitindo ultrapassar. Uma das grandes conquistas da psicanálise foi erotizar a vida, mostrando que ser-se (desde bébé) é desejar.
Quando a imagem de uma pessoa nos seduz (quando empatizamos com essa pessoa) há uma estranha sedução que se instala e que é muitas vezes a fantasia assumida do seduzido, consciente da situação (e portanto com domínio sobre ela) que se alimenta a si própria.
Creio que isso nos acompanha até morrer, a não ser que fiquemos gágás. Saber gerir esta situação na minha idade (e até profissão) é giro, e muita gente não percebe. Digamos que a poesia é o sítio onde enceno essas fantasias.
Há sempre a fantasia de uma (ou muitas) pessoa(s) jovem(ns) que nos alimenta e que não serve para outra coisa senão para ser fantasia (no sentido freudiano/lacaniano) e convive perfeitamente com a nossa ligação real, fiel no essencial, a outra pessoa, na vida prática. Digamos que essa vivência é até o que mantém, o que sustém a fidelidade, a não-traição essencial. Porque de pequenas "traições" está o enredo da vida feito... a não ser que estejamos conservados em álcool.
Muita gente não distingue estes planos e confunde tudo. É possível (acontece aliás quase sempre) haver uma relação mesclada entre as pessoas em que perpassam sentimentos e emoções que em nada conflituam quer com a lei quer com as normas quer com que seja o que for, excepto com a falta de sensibilidade e de subtileza de muita gente, que é "bruta, dura e informe".
Esta bruteza é uma falta de educação, particularmente chocante em pessoas com uma certa cultura.
_________
Foto: Martin Junius
Fonte: http://photo.m-j-s.net/
- aprender constantemente com outros e sobretudo aprender com uma companheira. E aqui evidentemente aprender em todos os sentidos.
- aprender por mim e aprender apesar de tudo e com todos – e aqui só tem a ver comigo. Seguir a minha intuição... Sinto-me hoje como se tivesse 20 anos nesse aspecto, acho. Ainda a começar.
É possível mudar? É possível mudar os outros?... Ou só podemos adaptar-nos aos outros?... Há sempre o desejo de mudar um pouco, quer dizer, de deixar nem que seja uma pequena marca no outro.
E se o outro se torna fundamental, então há mesmo o desejo de que o outro veja em nós aquilo que deseja, e isso seja por sua vez visto, percebido, por nós... Este pingue-ponge...
Uma pessoa só adaptar-se aos outros e à realidade em que está imerso é uma atitude passiva. O desejo de poder de que falava o Nietzsche está sempre presente em nós em background... Poder de ser um íman.
Quando uma pessoa entardece na sua vida, essa vontade de sedução vai passando do pólo dominantemente físico (cujas "propriedades de sedução" obviamente diminuem a olhos vistos) para o pólo mental, para persistir numa velha tradição exterior/interior de que a nossa cultura se alimenta.
Por isso é que a relação mestre-discípulo é sempre erótica, como o Ionesco mostra naquela maravilhosa peça dele, A LIÇÃO.
A "erótica" não precisa de estar ligada directamente a mais nada do que a uma série de subentendidos subtis, e não diz obrigatoriamente respeito ao sexo, que é uma mania obsessiva que também a idade nos vai permitindo ultrapassar. Uma das grandes conquistas da psicanálise foi erotizar a vida, mostrando que ser-se (desde bébé) é desejar.
Quando a imagem de uma pessoa nos seduz (quando empatizamos com essa pessoa) há uma estranha sedução que se instala e que é muitas vezes a fantasia assumida do seduzido, consciente da situação (e portanto com domínio sobre ela) que se alimenta a si própria.
Creio que isso nos acompanha até morrer, a não ser que fiquemos gágás. Saber gerir esta situação na minha idade (e até profissão) é giro, e muita gente não percebe. Digamos que a poesia é o sítio onde enceno essas fantasias.
Há sempre a fantasia de uma (ou muitas) pessoa(s) jovem(ns) que nos alimenta e que não serve para outra coisa senão para ser fantasia (no sentido freudiano/lacaniano) e convive perfeitamente com a nossa ligação real, fiel no essencial, a outra pessoa, na vida prática. Digamos que essa vivência é até o que mantém, o que sustém a fidelidade, a não-traição essencial. Porque de pequenas "traições" está o enredo da vida feito... a não ser que estejamos conservados em álcool.
Muita gente não distingue estes planos e confunde tudo. É possível (acontece aliás quase sempre) haver uma relação mesclada entre as pessoas em que perpassam sentimentos e emoções que em nada conflituam quer com a lei quer com as normas quer com que seja o que for, excepto com a falta de sensibilidade e de subtileza de muita gente, que é "bruta, dura e informe".
Esta bruteza é uma falta de educação, particularmente chocante em pessoas com uma certa cultura.
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Foto: Martin Junius
Fonte: http://photo.m-j-s.net/
15 comentários:
Belíssima reflexão :) as suas palavras seduzem-me!
Complexo tema, menina sónia. Escreve Florbela:'Por aquela tão doce
e tão breve ilusão
Embora nunca mais
Depois de que a vi desfeita
Eu volte a ser quem fui
Sem ironia aceita
A minha gratidão.'
Obrigado, Professor, pelas suas palavras cheias de alma!
Rudolfo Martins
Você, anónimo Rudolfo Martins, é uma força da natureza!
Galinha Livre
sedutor
subtil
...
(sempre.a.aprender)
iv
É a senhora do brinco? Este blogue tem um público feminino muito apelativo.
Rudolfo Martins
Menina, você tem piada. É alguma feminista ressabiada?
Rudolfo Martins
Anónimo(a) Rudolfo: os seus comentários estão a dar muita frescura ao blog do seu professor...
É continuar... Você está a tornar-se indispensável. A vida está difícil. O tempo está feio. Que energia contangiante!!
Menina, não sou nenhum anónimo. Está muito enganada. Admiro muito o Professor. Ouvi-no na Fnac e fiquei mais seduzido do que ali a menina sofia. Se me quiser contactar, esteja à vontade. O meu mail é rudolfosmartins@hotmail.com
Essa da galinha, espero, é só uma metáfora...
Rudolfo Martins
Rudolfo: que subtil...sedutor...subtil.
Mas que grande confusão... vai em espiral!
Menina sónia, as minhas desculpas por lhe trocar o nome. Reparo que é uma habitual neste blogue. Porventura tem um blogue seu que eu possa visitar?
Rudolfo Martins
e eu ,que apenas procurava uma pista para o exame de dia 10,acabo por assistir ao muito pouco subtil discurso da disputa de atenção por parte dos comentadores...
Pistas para o exame do dia 10? Lá está mais um(a) aluno(a) meu (minha) com alto grau de pragmatismo... julga que este blogue é um curso e -learning?
Contacte-me por mail se tem dúvidas, criatura!
vim cá mas já fui?
Essa lembra-me aquela do 'é bom, não era?'
Rudolfo Martins
Dou os meus parabéns à pessoa que usa o pseudónimo de galinha livre... que engraçado pseudónimo... uma pessoa em geral associa a ideia de galinha à falta de liberdade... Está giro, é uma espécie de oxímoro de cartoon.
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quem aprende e o quê, isabel, que estranhamente usas como apelido o meu primeiro nome?...
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