Forma de construir universal, não é vulgarmente tida em conta pelos arqueólogos como merece.
Provavelmente sítios calcolíticos como Castanheiro do Vento foram construídos assim.
Este video mostra uma casa moderna, mas dá-nos apesar de tudo algumas ideias: por exemplo, a utilização da terra facilita as formas arredondadas das estruturas, a sua decoração pode ser feita quase escultoricamente por meio de "cheios" (como quando falamos relativamente aos vasos de uma decoração "plástica") e "vazios" (o que seria na olaria uma decoração "excisa"). Estes vazios podem ser reentrâncias ou nichos nas paredes que permitem a multiplicação de espaços ao infinito. Na arquitectura pré-histórica, sabemos que essa multiplicação de espaços era muito importante, por exemplo nos monumentos megalíticos europeus (câmaras secundárias, etc.), onde constituíam espaços de deposição muito provavelmente ritualizada (isto é, obedecendo a regras que nada tinham a ver com a simplista "função", inventada por nós, de depositar cadáveres, ou esqueletos em posição secundária). A construção de monumentos, que implicavam uma extraordinária energia de toda uma comunidade, trazia implícita a crença partilhada em certos valores, vitais para a própria sobrevivência da mesma comunidade, quer fossem verbalizados ou não. Nuns casos, a vontade de construir algo de colectivo acabou por se traduzir em monumentos "megalíticos" de todo o tipo; mas o mais geral não foi, mesmo na "pré-história", a utilização da pedra, antes a de muitos outros materiais, como a terra, a madeira, e numerosas substâncias vegetais. A própria água que era incorporada nos edifícios teria certamente conotações muito importantes, porque permitiria transformações de estados dos materiais: a sua ligação à terra transformá-la-ia em material moldável, dando-lhe, por assim dizer, nova "vida"; depois de acabado o edifício ou a estrutura, e as suas paredes e tecto estarem estabilizadas e secas, a água poderia aparecer como o elemento mediador de uma importante transformação, como sempre, a seu modo, o fogo também o foi.
É sobre os sítios como sistemas de transformações e de deposições complexas que devemos investigar, partindo do princípio (hipótese) de que toda a sua construção, manutenção, transformação era vivenciada como tendo um valor em si; e não estando nós obcecados pelo edifício acabado e funcional como se fosse uma casa moderna.
O primeiro dever do historiador, do antropólogo, do arqueólogo, é NUNCA PROJECTAR NO OUTRO, e em particular no passado, as suas próprias evidências, o que lhe parece "natural" aos seus olhos de pessoa com uma determinada cultura e de uma determinada época tão específica e diferente de todas as outras, como a nossa.
No entretanto, atente-se no moderno betão, que substituíu a pedra, e que funciona a nível construtivo também num sistema de cofragens como por exemplo a taipa. Isto só nos mostra como a pedra, não afeiçoada ou preparada através de todo um aparelhamento, com todo o seu esplendor ou mesmo sacralidade (por simbolizar em muitos contextos a durabilidade) foi uma excepção na arquitectura dos seres humanos.
Provavelmente sítios calcolíticos como Castanheiro do Vento foram construídos assim.
Este video mostra uma casa moderna, mas dá-nos apesar de tudo algumas ideias: por exemplo, a utilização da terra facilita as formas arredondadas das estruturas, a sua decoração pode ser feita quase escultoricamente por meio de "cheios" (como quando falamos relativamente aos vasos de uma decoração "plástica") e "vazios" (o que seria na olaria uma decoração "excisa"). Estes vazios podem ser reentrâncias ou nichos nas paredes que permitem a multiplicação de espaços ao infinito. Na arquitectura pré-histórica, sabemos que essa multiplicação de espaços era muito importante, por exemplo nos monumentos megalíticos europeus (câmaras secundárias, etc.), onde constituíam espaços de deposição muito provavelmente ritualizada (isto é, obedecendo a regras que nada tinham a ver com a simplista "função", inventada por nós, de depositar cadáveres, ou esqueletos em posição secundária). A construção de monumentos, que implicavam uma extraordinária energia de toda uma comunidade, trazia implícita a crença partilhada em certos valores, vitais para a própria sobrevivência da mesma comunidade, quer fossem verbalizados ou não. Nuns casos, a vontade de construir algo de colectivo acabou por se traduzir em monumentos "megalíticos" de todo o tipo; mas o mais geral não foi, mesmo na "pré-história", a utilização da pedra, antes a de muitos outros materiais, como a terra, a madeira, e numerosas substâncias vegetais. A própria água que era incorporada nos edifícios teria certamente conotações muito importantes, porque permitiria transformações de estados dos materiais: a sua ligação à terra transformá-la-ia em material moldável, dando-lhe, por assim dizer, nova "vida"; depois de acabado o edifício ou a estrutura, e as suas paredes e tecto estarem estabilizadas e secas, a água poderia aparecer como o elemento mediador de uma importante transformação, como sempre, a seu modo, o fogo também o foi.
É sobre os sítios como sistemas de transformações e de deposições complexas que devemos investigar, partindo do princípio (hipótese) de que toda a sua construção, manutenção, transformação era vivenciada como tendo um valor em si; e não estando nós obcecados pelo edifício acabado e funcional como se fosse uma casa moderna.
O primeiro dever do historiador, do antropólogo, do arqueólogo, é NUNCA PROJECTAR NO OUTRO, e em particular no passado, as suas próprias evidências, o que lhe parece "natural" aos seus olhos de pessoa com uma determinada cultura e de uma determinada época tão específica e diferente de todas as outras, como a nossa.
No entretanto, atente-se no moderno betão, que substituíu a pedra, e que funciona a nível construtivo também num sistema de cofragens como por exemplo a taipa. Isto só nos mostra como a pedra, não afeiçoada ou preparada através de todo um aparelhamento, com todo o seu esplendor ou mesmo sacralidade (por simbolizar em muitos contextos a durabilidade) foi uma excepção na arquitectura dos seres humanos.
Fonte: http://www.youtube.com/watch?v=rLf8J7k69j0
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