Lisboa, Publicações D. Quixote, 2006.
Não consigo reprimir a vontade de transcrever aqui, com a devida vénia ao autor e editor (como se costuma dizer, numa linguagem já algo arcaica...) o poema (p. 35)
O BANHO DE SUSANA
Entre ela e a água, um fio de
ouro. Depois, fecha a luz e
o ouro passa a prata, e a prata
evapora-se em sombra. Só
ela fica, imóvel, sob o céu
onde as estrelas são olhos, e a
lua um reflexo da sua pele.
Mas volta a acender
a luz, como se quisesse que
a vissem. E quando se olha
ao espelho, descobre a beleza
do seu corpo que ela faz
dançar, enquanto se despe,
e todas as estrelas brilham
como olhos ansiosos de vida.
Então, fechando a água,
entra na banheira. E os velhos
saltam de trás das cortinas, de
dentro dos canaviais, de baixo
da relva, de cima dos dosséis,
enquanto ela, de costas para eles,
esfrega a pele com a esponja
desses olhos que a atravessam.
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