terça-feira, 1 de janeiro de 2008

paisagem

Fonte da foto: http://www.borisnyc.com/red-curtainsE.jpg

Na paisagem jamais aparece
aquilo que seria importante:
e por isso ela se alonga
aos olhos eternos da contemplação,

Como a mulher que com desplante
se estende sobre a sua própria feminilidade.

A feminilidade e a paisagem
vão aliás sempre juntas
num estranho conluio

Que não tem outro fim, nem objectivo,
nem sentido, que não seja o furtar-se,
mantendo o jogo, a expectativa.

A premonição do drama
está sempre nos bastidores,
pronta para reiniciar o espectáculo
a que a figura principal
vai infalivelmente faltar,

mas a que todos sempre acorrem
na certeza antecipada
de a irem ver.

A aparição principal
jamais é tirada de cartaz,
porque é a própria base do teatro,
da paisagem. Toda a paisagem
é a sua própria expectativa, e
a expectactiva de algo mais,
o espectáculo. A mulher.
as duas de braço dado.
de rabo voltado para o espectador.

O próprio espectáculo é criado
pelas cortinas; pelo seu abrir e fechar.
pela posição de quem
se obstina em ver, em esperar
pelo verdadeiro momento.


voj 2008

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