sábado, 12 de janeiro de 2008

O metro já chega ao Esquecimento?


Este blogue é um (dos) sítio(s) onde eu (VOJ) me exprimo?
Talvez não tanto.

Este blogue é uma máquina de espremer um "produto" de "marca VOJ" ?
Quem sabe?...


Comunicar é expelir? Num certo sentido, creio que sim. Sem que se saiba alguma vez o que realmente se comunica, quem é o emissor, e quem são (serão) os eventuais receptores. Mas não se trata de expelir uma "verdade" escondida (como se fosse um fluido do corpo), trata-se de "existir" pela própria possibilidade de poder realizar esse acto "que nos atira para fora de nós", "fazendo-nos" ao mesmo tempo.
Quem nunca comunicasse, no sentido mais geral, existia? Creio que não.
A existência é uma insistência. Uma insistência numa vontade por vezes alucinada do ser em querer continuar a ser.


Só sei (ou julgo ver) que duas mãos em frente de mim primam teclas, e que à medida que isso vai acontecendo surgem letras, palavras e frases alinhadas dentro de uma janela branca.

Algumas pessoas depois escrevem.

Entretanto, envelhece na cozinha uma máquina de fazer sumos tão completa que nunca a uso. Um amigo meu diz que eu como (me alimento) mal, devia fazer menos blogues e mais sumos.

Cada um escolhe a sua maneira. Não tenho grande jeito para me entreter com a vida quotidiana.

Talvez o texto me tenha escolhido a mim; e o blogue sirva para eu acontecer, enquanto também as mãos não ficarem na cozinha, por se terem tornado muito complicadas.

Mas eu sou a "marca VOJ" ?...

A maior parte das pessoas não vem aqui, nem quer saber destas coisas para nada.
Uma loja vazia pode parecer triste a quem gosta (ou precisa muito, como por exemplo de fumar) do mundo, mas permite ao dono, sentado ao fundo sem clientes, ler !
Ler, imagine-se, ler !
Fazer o seu blogue.

Espremer-se. Exprimir-se. Expandir a marca?! ... Esquecer-se, pelo menos, de muita coisa.

Eu nunca tive jeito pró negócio.
Mas para o ócio também não estou voltado.

Há alguma direcção do Esquecimento?

Esta é a primeira postagem escrita aqui por mim (VOJ) na qualidade de Anónimo.
Um Anónimo que se tornou Outro de si desde que começou a usar este método de expelir.

Cada um fabrica-se, produz-se, como pode, com o que tem. Mas ele (ou ela) não é anterior nem independente aos seus processos de fabrico, quer a nível pessoal, quer a nível social. Eu fabrico-me quando vocês me estão a ler. Antes não existia igual, mesmo antes de escrever esta frase não era igual - na medida em que ela vos comunica que eu sei que ao lerem-me me fazem, me ajudam a fazer, a criar a imagem (a marca) que se chama VOJ.
Eu fabrico-me na antecipação de que me irão ler, e sem saber quem, quando e de que modo me irá(irão) ler.
É essa FANTASIA fundamental que eu sou.

Por isso ser Anónimo ou ter um Nome é indiferente, quase sempre, mas pelo menos aqui.
Por isso quando somos obrigados a dizer o nosso nome completo de baptismo, de registo civil, isso é sempre uma afirmação de um poder que nos interpela. Diga o seu nome. É o poder que nunca poderia (nunca nos deixaria) parar na estação do Esquecimento. E que pôs no meu BI que meço de altura 1,74 metros. 




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Fotos: Ernesto Timor
Fonte:
http://www.ernestotimor.com/pages/_01_unfixed00.html

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