... que a obsessão principal da mulher é a de estar certa sobre as suas capacidades de sedução. Por muito que as coisas tenham mudado, ela sabe que é o principal "atractor", pelo menos numa primeira fase do encontro e do relacionamento... evidentemente que esse aspecto é explorado comercialmente até à exaustão, e a preocupação pela imagem torna-se, a determinada altura, uma questão ontológica. Mesmo a mais despreocupada das mulheres não passa por um espelho (uma simples montra de rua) sem se mirar, numa espécie de permanente necessidade de auto-confirmação (como potencial sedutora - obviamente que de si própria em primeiro lugar... é escusado dizer essas evidências).
Parece-me, com todo o reducionismo e simplismo que estas polaridades implicam, que...
... o homem vive na preocupação de se assenhorear do jogo, isto é, de jogar (na sua imaginação) a última cartada, quer ao nível de vencer os avanços e recuos próprios da atitude esquiva da sedutora (versão do jogo infantil do toca e foge), quer, no plano sexual, em impor, pela "autoridade fálica" (ou seja, pelo fascínio que o seu sexo exerce sobre a parceira e o prazer que lhe proporciona) uma espécie de ponto final no jogo: satisfazendo a mulher (mais por vezes do que satisfazendo-se a si, ou melhor, tentando sobretudo satisfazer a imagem da mulher, e o papel para si de apaziguador dominante, que ele subjectivamente constrói).
Evidentemente que estas fantasias e jogos variam ao infinito com as pessoas, as gerações, as idades... é óbvio que o saber-se quem seduz e quem é seduzido em cada instante resulta de uma constante "negociação" ou "agenciamento"... pelo que nada há de mais precário e contingente do que efabular de forma rápida sobre tão complexo tema.
A maior humilhação para uma mulher é a convicção (baseada ou imaginária) de que não levou o seu intento de sedução, de conquista, até ao fim, pois isso põe em causa a sua auto-estima.
A maior humilhação para um homem é o sorriso trocista da mulher (que pode estar disfarçado de maternalismo complacente) quando este não consegue satisfazê-la. É que neste campo há uma diferença abissal: com ou sem prazer a mulher pode encenar o pathos, e o homem não; de forma que a "ansiedade de concretização", que a mulher (pelo menos como encenação de si) não sente, é um dos fantasmas que perseguem o homem, por vezes mais preocupado na consumação do acto do que propriamente na sua degustação; quer dizer, mais obcecado na história e na imagem da consumação do que no devir da acção em si. Os falhanços são-lhe insuportáveis à sua própria identidade de "macho". Mas, paradoxalmente, tais "falhanços" devem-se sobretudo à sua ansiedade, à ansiedade que lhe provoca a superioridade sedutora da mulher, nas suas mil artimanhas, e a vontade que tem de sair vencedor do jogo, reduzindo-a a parceira igualitária por via do orgasmo, se possível em simultâneo (outro mito obcecante que tanto retira de prazer aos jogos do amor, que têm a ver com o relacionamente global das pessoas e não com "performances" idealizadas deste ou daquele tipo, até porque os prazeres não se medem nem comparam, os efeitos subjectivos de tudo são imprevisíveis, e as pessoas precisam de transbordar da sua consciência e de rebentar com os esquemas de auto-vigilância para mergulharem na vida).
Evidentemente que estes aspectos se relacionam todos com uma péssima ausência de "educação" para estes assuntos e com toda uma série de tabus bem conhecidos, articulados com uma sociedade maquínica onde o desempenho "desportista" do corpo pode funcionar como uma espécie de ecologia em tom de "fascismo soft", isto é, com uma incapacidade generalizada de se atingir a mítica satisfação plena (constantemente prometida pela publicidade e pelas insinuações mediáticas de todo o tipo) como forma de se manter os indivíduos como máquinas desejantes. A pessoa hoje é culpada não apenas por fazer isto ou aquilo, mas sobretudo por não sentir um suposto "gozo" no que faz. A depressão condena-a a cada vez se afundar mais nas areias movediças que se construíu para si própria, no desejo de atingir metas que interiorizou como desejos seus, inalienáveis.
A nossa sociedade ensina-nos tudo menos a amar, transformando a relação das pessoas numa coisa higiénica, funcional, de jogos de poder, de efeitos de procriação ou de manutenção da relação de cumplicidade, em que afinal o indivíduo está muito mais preocupado em se realizar "para dentro de si" (dos eus espelhados que há em si) do que para se abrir ao outro, isto é, aceitando a incerteza e não fazendo depender a sua auto-estima de uma imagem heroicizada do seu desempenho, que é sempre a de um olhar castrador, um olhar vigilante, um olhar de fora.
O grande problema, hoje, é sabermos embrenhar-nos numa situação com um misto de total consciência e de total inocência, com um misto de total entrega e de total reserva, em simultâneo. Há toda uma aprendizagem da "naturalidade" que é indispensável ao "cuidado de si", forma fundamental e resíduo último do poder. Ninguém tem nas mãos uma pessoa que consiga esse (dificílimo) equilíbrio.
Todos somos um pouco de homens e de mulheres, de sedutores e de seduzidos, numa brincadeira sem fim - de que só quem está morto prescinde. A erótica, no seu sentido mais geral, começa cedo e acaba tarde, e talvez seja o motor da existência, como sabemos desde Freud, e como os "artistas" desde sempre nos insinuaram.
Não duvido de como tudo isto que disse é simplista, mas... há qualquer coisa de útil, de eficaz, na enunciação rápida das coisas. Como em toda a modernidade, um blog é feito para pequenas ideias luzirem: nem que por pálidos instantes. Talvez despertem alguns reflexos noutras superfícies polidas.
Parece-me, com todo o reducionismo e simplismo que estas polaridades implicam, que...
... o homem vive na preocupação de se assenhorear do jogo, isto é, de jogar (na sua imaginação) a última cartada, quer ao nível de vencer os avanços e recuos próprios da atitude esquiva da sedutora (versão do jogo infantil do toca e foge), quer, no plano sexual, em impor, pela "autoridade fálica" (ou seja, pelo fascínio que o seu sexo exerce sobre a parceira e o prazer que lhe proporciona) uma espécie de ponto final no jogo: satisfazendo a mulher (mais por vezes do que satisfazendo-se a si, ou melhor, tentando sobretudo satisfazer a imagem da mulher, e o papel para si de apaziguador dominante, que ele subjectivamente constrói).
Evidentemente que estas fantasias e jogos variam ao infinito com as pessoas, as gerações, as idades... é óbvio que o saber-se quem seduz e quem é seduzido em cada instante resulta de uma constante "negociação" ou "agenciamento"... pelo que nada há de mais precário e contingente do que efabular de forma rápida sobre tão complexo tema.
A maior humilhação para uma mulher é a convicção (baseada ou imaginária) de que não levou o seu intento de sedução, de conquista, até ao fim, pois isso põe em causa a sua auto-estima.
A maior humilhação para um homem é o sorriso trocista da mulher (que pode estar disfarçado de maternalismo complacente) quando este não consegue satisfazê-la. É que neste campo há uma diferença abissal: com ou sem prazer a mulher pode encenar o pathos, e o homem não; de forma que a "ansiedade de concretização", que a mulher (pelo menos como encenação de si) não sente, é um dos fantasmas que perseguem o homem, por vezes mais preocupado na consumação do acto do que propriamente na sua degustação; quer dizer, mais obcecado na história e na imagem da consumação do que no devir da acção em si. Os falhanços são-lhe insuportáveis à sua própria identidade de "macho". Mas, paradoxalmente, tais "falhanços" devem-se sobretudo à sua ansiedade, à ansiedade que lhe provoca a superioridade sedutora da mulher, nas suas mil artimanhas, e a vontade que tem de sair vencedor do jogo, reduzindo-a a parceira igualitária por via do orgasmo, se possível em simultâneo (outro mito obcecante que tanto retira de prazer aos jogos do amor, que têm a ver com o relacionamente global das pessoas e não com "performances" idealizadas deste ou daquele tipo, até porque os prazeres não se medem nem comparam, os efeitos subjectivos de tudo são imprevisíveis, e as pessoas precisam de transbordar da sua consciência e de rebentar com os esquemas de auto-vigilância para mergulharem na vida).
Evidentemente que estes aspectos se relacionam todos com uma péssima ausência de "educação" para estes assuntos e com toda uma série de tabus bem conhecidos, articulados com uma sociedade maquínica onde o desempenho "desportista" do corpo pode funcionar como uma espécie de ecologia em tom de "fascismo soft", isto é, com uma incapacidade generalizada de se atingir a mítica satisfação plena (constantemente prometida pela publicidade e pelas insinuações mediáticas de todo o tipo) como forma de se manter os indivíduos como máquinas desejantes. A pessoa hoje é culpada não apenas por fazer isto ou aquilo, mas sobretudo por não sentir um suposto "gozo" no que faz. A depressão condena-a a cada vez se afundar mais nas areias movediças que se construíu para si própria, no desejo de atingir metas que interiorizou como desejos seus, inalienáveis.
A nossa sociedade ensina-nos tudo menos a amar, transformando a relação das pessoas numa coisa higiénica, funcional, de jogos de poder, de efeitos de procriação ou de manutenção da relação de cumplicidade, em que afinal o indivíduo está muito mais preocupado em se realizar "para dentro de si" (dos eus espelhados que há em si) do que para se abrir ao outro, isto é, aceitando a incerteza e não fazendo depender a sua auto-estima de uma imagem heroicizada do seu desempenho, que é sempre a de um olhar castrador, um olhar vigilante, um olhar de fora.
O grande problema, hoje, é sabermos embrenhar-nos numa situação com um misto de total consciência e de total inocência, com um misto de total entrega e de total reserva, em simultâneo. Há toda uma aprendizagem da "naturalidade" que é indispensável ao "cuidado de si", forma fundamental e resíduo último do poder. Ninguém tem nas mãos uma pessoa que consiga esse (dificílimo) equilíbrio.
Todos somos um pouco de homens e de mulheres, de sedutores e de seduzidos, numa brincadeira sem fim - de que só quem está morto prescinde. A erótica, no seu sentido mais geral, começa cedo e acaba tarde, e talvez seja o motor da existência, como sabemos desde Freud, e como os "artistas" desde sempre nos insinuaram.
Não duvido de como tudo isto que disse é simplista, mas... há qualquer coisa de útil, de eficaz, na enunciação rápida das coisas. Como em toda a modernidade, um blog é feito para pequenas ideias luzirem: nem que por pálidos instantes. Talvez despertem alguns reflexos noutras superfícies polidas.
1 comentário:
espelho de dentro e de fora...
o fora que está dentro...
o reflexo de como estamos...
de como somos...
bom mesmo é poder mirar no cristal de uma montra... e ver que meu cabelo está despenteado... mesmo tendo o pretinho do olho e vermelho dos lábios sempre em dia... nao importa que o cabelo esteja atrapalhado... como as idéias que tenho na cabeça e na alma...
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