quinta-feira, 5 de abril de 2007

Este foi o meu primeiro livro de poemas...


... publicado em Sá da Bandeira (actual Lubango), Angola, em edição de autor, em Maio de 1973.
Foi composto e impresso na velha Gráfica da Huíla...
Antes, em Lisboa, fui com o original e uma carta de José Palla e Carmo às Edições D. Quixote, onde falei com Snu Abecassis, a proprietária e responsável da editora, intentando inclui-lo na colecção "Cadernos de Poesia"; mas a colecção ia acabar porque, segundo ela me disse, dava prejuízo. Esteve depois para ser publicado pela Editorial Presença, com quem mantinha boas relações, mas a minha ida para Angola no início de 1973 interrompeu isso tudo.

Transcrevo aqui o poema 3 do livro:


toda a minha contribuição à cultura da terra portuguesa está na abertura
deste ritmo. uma maneira ténue de chegar de há tanto tempo.
um movimento que percorre as fachadas, visita
as feridas da guerra, os novos metropolitanos, para se extenuar junto
[às torres.

um caminho que tenuamente vibra, como a água viva
sobre a pedra. um caminho que oblíqua, harmoniosa e cegamente
se desequilibra. e assiste, quase no auge, à chegada das famílias.
e mais tarde, já mais próximo desse auge, acompanha as margens
dos ribeiros disciplinados, abeira-se das refeições dos seus habitantes,
e não pronuncia uma palavra, cioso de apenas chegar de há tanto tempo.
cioso de contribuir para a cultura do litoral português com esta chegada,
com esta pistola pousada e desperta como uma mão.
um movimento cujo auge está numa pistola com veias vivas.


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Mais tarde havia de voltar a ele, refundindo-o no livro "Estrangeira Terra Litoral", publicado pela Faculdade de Letras do Porto em 1996, e ainda disponível, claro.

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