A mulher distende-se.
Afasta cada um dos seus membros
Para o mais longe possível do centro.
Rompe a pele, espalha os órgãos.
A atmosfera da mulher é assim
Rarefeita, um éter em que levitam
Partes ligadas por linhas, ligas, elásticos.
Sobre o grande espelho
Do antigo guarda-fato
A mulher projecta um eixo central
De onde partem radículas em todas
As direcções.
E os globos iluminados
Assistem a esta revolução secreta
Sem saberem que, através das fendas,
Para dentro de si,
A mulher projecta também
Figuras geométricas tensas,
Radículas, fluxos instantâneos
Que se dirigem às suas constelações
Interiores.
Não se descobriu ainda a física
Que descreva isto, que reduza a fórmulas
Tamanha força, o enigma
Da floração dos pêlos,
A astronomia destes astros, destes sapatos
De salto alto, bicudo, metálico,
Furando constantemente os lençóis iniciais.
Sobre o firmamento do útero
Giram luas e ondulam oceanos
Desde sempre à procura da resposta,
Do eixo em que a razão quer encaixar
Esta explosão ou implosão que é a mulher.
Vítor Oliveira Jorge, texto e foto
(Marrocos, palácio Bahia, Marráquexe, Set. 2008)
3 comentários:
belo poema.
Obrigado...ultimamente o facebook tem-me ocupado o tempo que antes dedicava ao blogue... mas não desisti deste, pelo contrário!
gostei muito deste poema, caro victor. cumprimentos.
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