quarta-feira, 14 de maio de 2008

sei



sei e no entanto

não deixo de me interrogar

bato cada vez com mais força
nas tábuas da realidade

o tempo voa em estilhaços
entre as frinchas

vejo com as órbitas vazadas
e no entanto
não deixo de olhar

voas cada vez com mais força
em torno do teu rosto
ausente

e eu atiro-me contra
o presente
na esperança de pressentir

sem mãos vou com os braços
desemparados
cingir a cintura

e tu emerges
ao meio da sala, como um móvel
alado

terei de acompanhar
a sombra, de levar a parede
na mala

de bater com as fotografias
na mesa em frente
a ver se a realidade

finalmente me envia um fio de sangue
uma gota de leite
uma boca, uns lábios

ávidos


uma imagem de levitação.

uns fios a que pendurar
esta persistência

em que instalar
esta interrogação.

as tuas saias sabem.

essa técnica de descer
pelo branco
como a trapezista quando
volta à pista pela corda

para parar de morrer

alguém tem se saber.

são terríveis estes batimentos
das tablas, o meu coração

não aguenta.





Foto: voj Siena Fev. 2008 Exposição de Arte Contemporânea da Áfrca do Sul. Palazzo delle Papesse
texto: voj Maio 2008

1 comentário:

isabel mendes ferreira disse...

sei. Prof. que a sua escrita é um chão aberto.



belo. belíssimo.




abraço.