Reconstituição de túmulos etruscos e outros monumentos, jardim.
Um tell, Próximo Oriente.
Em vez de tratar o museu como um simples repositório de documentos, um espaço de lazer, um local de contemplação estética ou de obtenção de saber, é preciso voltar a devolvê-lo ao seu carácter eminentemente espectral de ARQUIVO ALUCINADO. O museu é o inconsciente.
É o lugar sem lugar do recalcado.
São as águas negras que se agitam sob todas as narrativas míticas.
O museu tem de permanecer como não explicado. Tanta explicação cansa, cansa muito.
O museu é o lugar do enigma posto em cima de uma peanha.
Assim readquire a leveza e a beleza de servir para o olhar cego se passear entre objectos que já não vê, quase sufocado pela atmosfera que já não suporta, num cansaço verdadeiramente excepcional.
O museu é o ASILO MARAVILHOSO, onde esperam todas as figuras à porta da literatura.
O museu é a porta do deserto, onde estão as filas dos que esperam, há séculos, para nele se internar.
Pôr uma legenda num museu é um acto excessivo.
Deixa correr a hemorragia, não estanques o que se esvai até à consumação completa.
Fala com as peças. Não lhes chames cultura material: tem vergonha dessas nomenclaturas.
Deixa viver as criaturas que já morreram a sua nova vida. Circula, deambula, fotografa, aponta e apaga: e sai como se não tivesses visto nada, quer dizer, como se tivesses posto entre os olhos a lâmpada da alucinação.
Cansa, fatiga tanta explicação, tanta coisa óbvia posta numa vitrina, quando é óbvio que é a nossa eternidade que está ali, deitada num caixão.
Deixa descansar. Já se disse tanta coisa e o enigma continua lá. Basta!
Fotos VOJ Fev. 2008 texto voj Maio 2008
3 comentários:
Um dos melhores textos que tenho lido sobre a necessidade da libertação do museu. Parabéns!
Obrigado. Voltarei mal possa à obsessão do arquivo numa postagem próxima.
Começo a ver a arqueologia com olhos mais brandos e mais amplos, sei que as coisas não são famosas em portugal, mas sei também que podem melhorar, temos de dar tempo ao tempo
Saudações
Bruno Fernandes
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