Transferência "(...) A PSICANÁLISE INVENTOU DE FACTO UMA NOVA FORMA DE AMOR CHAMADA TRANSFERÊNCIA." JACQUES-ALAIN MILLER (Lacan Dot Com)
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008
margem
Dantes, quando pousavas
Em qualquer beira, como pássaro
Magnífico;
E o teu corpo, os seus poros,
Atraiam as ondas,
Os uivos litorais dos bandos;
Dantes, quando era possível
Cantar uma ária inteira
Caminhando sempre na mesma praia
Sem vir ninguém,
A não ser o inverno, as suas
Grandes ondas gordas, azuis, paradas;
E as rochas em que te sentavas
Em risco de rasgar a pele nas asperezas,
Eram também azuis;
E o teu olhar puxava a camisola para baixo,
Como se fingisses proteger-te da nudez
Perante um eu, um mim, que de facto
Acalentavas já dentro de ti.
Dantes, quando eu olhava os teus pés
Como um sinal da fragilidade em que assentava
Toda a tua arquitectura,
E te dizia: é bom que eu os veja já com saudade,
Para não ser mais tarde surpreendido;
E mais tarde apenas me repetir
Quando te vir de novo pousar sobre a falésia
Como um pássaro, para me visitares
E, tal como hoje, não me dizeres nada:
Porque, contra tudo o que seria de esperar
Me possuis, e a tua presença bate aqui -
Como uma maresia distante, como uma praia
À noite, para um cego que não sabe
O que vai acontecer,
Mas no entanto caminha
Na aspereza das rochas,
Fascinado pelo iodo, pelo ruído
De um outro mundo
Que vem dar a este limite:
O tacto, as nádegas sobre a rocha.
Esse conhecimento.
voj 2008
para a susana
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