conheces um seixo, um seixo rolado?
foi com ele que deus criou o mundo,
junto às águas negras, de um negro brilhante,
no mar primordial.
deus ergueu uma vez o seixo,
ergueu-o bem alto com as suas mãos.
e cintou-o, e disse: nasceu a Mulher.
e deus ergueu a Mulher, ergueu-a bem alto,
e disse: eu te fecundo, eu te preencho,
eu te insemino para que de ti saia o Homem,
todos os seres humanos.
e a mulher tornou-se redonda,
a lua branca pousou suavemente
sobre os seus cabelos, e
a Terra povoou-se.
e então deus ergueu uma vez mais o seixo
e deixou-o cair pesadamente
sobre a sua própria cabeça.
e disse: este é o meu sangue, que o solo
o beba, que o solo o absorva, que ele brote para sempre
de todo o lado,
como sangue vivo, como
água cristalina.
e sobre o céu ergueram-se dois diamantes.
deus ergueu-se então entre os cristais,
deus ergueu-se entre os diamantes,
e desapareceu então no vazio escuro entre eles.
deixou-nos aqui nesta ilha sobre as águas,
sob um céu polvilhado de cristais brilhantes e longínquos,
deixou-nos aqui rodeados de seixos muito brancos
com os olhos muito abertos,como seixos redondos,
e neles vêm, desde sempre e para sempre,
espraiar-se as ondas da Interrogação.
vitor oliveira jorge
Março 2010
5 comentários:
belo!
e provável...
.
Gostei muito do que escreve. Parabéns, o espaço é muito bom.
http://compromissocomoacaso.blogspot.com/
belo poema!
em que, pessoalmente, leio a ausência de um deus num mundo humano pleno de "interrogações".
abraço.
Gostei do poema cosmogónico!
Obrigado a todos!
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