quinta-feira, 1 de maio de 2008

avesso


Escreve-se como quem pinta
Uma parede litoral já pintada:
Cinzento sobre outro cinzento,
Verde-seco sobre outro verde-seco.

Com a textura pastosa do liquido, um pouco gordo;
Com o macio pelo a tentar percorrer as superfícies
De forma certa;
Escreve-se como se se pintasse o teu corpo
Encostado à parede,
Onde batem as ondas e os reflexos listados dos toldos.

E aí há relevos, pequenos relevos nos seios,
Nos pontos onde as estações provocam,
Nos trilhos que se disfarça com nova camada.

Escreve-se como se ama, ou como nunca se amou,
Com todo o tempo, dentro de uma casa de hopper
E o mar ao lado. O pincel pousado sobre a lata.
A tinta a absorver todo o perfume que vem.

Os búzios abertos, expondo o seu róseo interior,
Ávidos da sua vez.
Abrindo do avesso a nudez do fundo.


voj 2008
foto: ernesto timor
fonte: http://www.ernestotimor.com/pages/_01_unfixed00.html

2 comentários:

isabel mendes ferreira disse...

e o Prof. escreve.............

como poucoS!!!!!

Vitor Oliveira Jorge disse...

o artista agradece.