Transforma-se o amador na cousa amada
por virtude do muito imaginar;
não tenho, logo, mais que desejar,
pois em mim tenho a parte desejada.
Transforma-se o escritor na coisa escrita
por virtude de muita prática d’encenar;
mas, e se ao virar as costas a figura dita
quiser por sua vez segui-lo, e desejar?
Num livro enterram-se muitas cousas,
e uma biblioteca é um imenso cemitério;
mas se no silêncio se levantarem as lousas,
como enfrenta o escritor o seu mistério?
luís de camões/soneto "Transforma-se o amador na cousa amada", 1ª quadra (itálico)
voj 2008
foto: Diana Diriwaetcher
fonte: http://www.dianadiriwaechter.com/gallery/index.html
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