domingo, 1 de julho de 2007

Confissão (não é poema!)

Desde pequeno que detesto foguetes.
Uma coisa insuportável do verão é a palavra animação.

A animação mete sempre foguetes,
fogo de artifício,
microfones altíssimos que não respeitam ninguém.

E não deixam sequer ouvir
o silêncio do mar à noite,
o sistema sanguíneo do verão.

Não sei por quê, nunca percebi
por que é que as pessoas correm para a animação:
besuntadas de gelado, cheias de suor,

com um certo ar bovíedo,
como que a chupar o tempo com a boca
e as narinas dilatadas pelo álcool.

agitando muito os corpos,
derretendo a própria beleza
que tem a verdadeira obscenidade!

E os casamentos, a cerimónia terrível
dos casamentos, com toda a gente a mostrar-se
para o nada, a ser fotografa pelo nada, pelo seu nada de todos
e de cada um!

Meu deus, leva-me para um sítio
onde possa mergulhar num rio ainda puro
abraçando a minha amada,
entrando lentamente no silêncio
das gotas. a nossa festa.

onde haja muito pouca coisa, que é para poder
aparecer tudo, finalmente!

3 comentários:

Anónimo disse...

Realmente os foguetes são desagradaveis, no entanto a folia do verão é uma forma (dionisiaca) de fugir à rotina de um ano de trabalho ou de estudo. Para tal as pessoas tendem a buscar o oposto da realidade onde vivem, tendem a buscar divertimento, ocio e essencialmente uma realidade simples de consumir.
Creio que é uma componente importante, contribui para o equilibrio de uma vida de responsabilidade... é um pouco de libertinagem, mas também não são os anos 60 e 70.
Claro que existe quem equilibre a sua vida "de responsabilidade" com uma tarde isolado na praia a ouvir o mar e a ler um livro, eu equilibro dessa forma a minha vida de responsabilidade, mas não creio que me também me faz falta uma boa festa popular com os meus amigos, onde por momentos (breves horas de uma noite longa) não penso no amanhã.

Vitor Oliveira Jorge disse...

Eu primeiro lugar, a minha "confissão" não se pretende aplicar ou impor a ninguém... estava apenas incomodado com o facto de uma música horrenda vir de lá de baixo de junto ao Douro aqui ter incomodativamente comigo... a festa é talvez a mais importante das instituições humanas e ninguém pode passar sem ela. A questão é que tipo de festa? Eintroduzir no que é considerado algo de natural um efeito de estranheza... ou seja, mostrar que muitas festas são deprimentes. E nesse sentido, talvez no seu íntimo, as pessoas saem de lá frustradas. Mas necessitam desses rituais como os fumadores necessitam do fumo, mesmo sabendo estar-se a matar... se um blog não servir para despertar algo que vai para além do óbvio, do "natural" (que a sua mensagem exprime) então não traz nada de novo. O que exprimi é genuíno, não pedante nem fngido: quando era pequeno muito pequeno, levaram-me a uma festa de aldeia e os foguetes impressaram-me tanto que parece que passava a vida a chorar até terem de me levar de regresso a Lisboa.
O convívio, o humor, a libertação do quortidiano são necessidades fundamentais. Agora, as festas pimba e a espécie de obrigação "primitiva" de nesses dias toda a gente ter de rir e gozar, aborrece-me. Já bem basta as outras obrigações... mas isto é muito pessoal e contingente.

Anónimo disse...

Como se escreve mal em Portugal...
vejam o meu blogue, LOL.