Zizek sobre o Livro de Job: "Diria que talvez seja o
primeiro exemplo da moderna crítica da ideologia." (p. 152) Job "quer
afirmar a falta de sentido do seu sofrimento." (...)
" E no instante em que aceitas o sofrimento como algo
que não tem um significado mais profundo isso significa que podemos mudá-lo,
combatê-lo. Este é o nível 0 da crítica da ideologia - quando a tua
interpretação mostra que as coisas não têm um significado [uma razão de ser assim]."
O sofrimento de Job, demonstrando a derrota de Deus (que
reconhece a injustiça do que acontece a Job) (...) "aponta para o
sofrimento de Cristo. Passamos do judaísmo ao cristianismo quando esta
separação infinita entre o Homem e Deus - o instante em que o Homem
simplesmente não pode dar sentido ao seu sofrimento - é transladada para Deus
ele próprio. É assim que devemos interpretar o grito desesperado de Cristo
quando diz: "Pai, por que é que me abandonaste?" Não devemos entender
esta pergunta como "por que me
atraiçoaste?", em termos das expectativas de um menino não satisfeitas
pelo pai, que o não pode ajudar. É algo de muito mais desesperado. A queixa é
dirigida muito mais directamente à impotência do Pai. O Pai não é omnipotente,
e Cristo representa nesse sentido tanto a impotência de Deus como o sem-sentido
do seu próprio sofrimento."
Slavoj Zizek,
"Arriesgar lo Imposible. Conversaciones con Glyn Daly,
Madrid, Ed. Trotta, 2006, pp. 152-153 (trad. minha).
Sem comentários:
Enviar um comentário