Esboço de um primeiro andamento de sonata
para violoncelo e baixo contínuo, largo
E assim conheci
Sucessivos limiares de sofrimento,
Entre bailarinas jovens
Cobertas de gotas
De suor genuíno.
E sem parar agitavam
O umbigo, a cintura,
Como animais destapados
E possuídos
Por um frenesim
Sem explicação.
Tinham pele brilhante,
Fina,
Irreal no seu tacto,
E sobretudo estavam
Tão longe!
Tão desfocadas,
Como se eu, ao passar,
Abrisse um corredor de irrealidade
Em torno de mim.
De facto,
Segurava a bandeja pesada,
Cheia de copos de chá
Vermelho e quente
Procurando ainda
Chegar a tempo.
E assim à noite
Sob palmeiras amarelas
Aprendi a mortífera crueldade
Directamente nos lábios.
Tive de dormir com quem
Possuíra a minha casa
Em meu nome,
Para tentar ainda chegar
A tempo
Para tentar dar-te
As velas vermelhas,
Acesas
Como um pedido
Mesmo importante!
O pedido fundamental
O pedido
Com que caminhei sempre.
E assim passei
Entre os risos da festa
E a visão diabólica
Dos dentes azuis
Que me queriam morder
Para ver se ainda
Chegava a tempo.
E assim me acerquei
Do desvairado sorriso
Da traição;
O grande,
O interminável riso,
Sádico,
Lento, lento,
Tão lento,
Lento como uma tortura,
Como uma violação,
Enquanto a lâmina
Adquiria a têmpera
Preparada para atravessar
Todo o percurso
Dos meus versos:
Desde a primeira
Até à última estrofe;
Diria,
Desde antes da primeira sílaba
Até ao silêncio
Que demora
Após a última,
Enquanto as próprias nuvens roxas
Se escapam para o horizonte,
Apavoradas.
voj porto janeiro 2011
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