domingo, 16 de janeiro de 2011

Esboço de um primeiro andamento de sonata para violoncelo e baixo contínuo, largo

Esboço de um primeiro andamento de sonata

para violoncelo e baixo contínuo, largo





E assim conheci

Sucessivos limiares de sofrimento,


Entre bailarinas jovens



Cobertas de gotas

De suor genuíno.



E sem parar agitavam

O umbigo, a cintura,



Como animais destapados

E possuídos

Por um frenesim

Sem explicação.



Tinham pele brilhante,

Fina,

Irreal no seu tacto,



E sobretudo estavam

Tão longe!



Tão desfocadas,



Como se eu, ao passar,

Abrisse um corredor de irrealidade

Em torno de mim.



De facto,

Segurava a bandeja pesada,

Cheia de copos de chá

Vermelho e quente



Procurando ainda

Chegar a tempo.



E assim à noite

Sob palmeiras amarelas



Aprendi a mortífera crueldade

Directamente nos lábios.



Tive de dormir com quem

Possuíra a minha casa

Em meu nome,



Para tentar ainda chegar

A tempo



Para tentar dar-te

As velas vermelhas,



Acesas

Como um pedido

Mesmo importante!



O pedido fundamental

O pedido

Com que caminhei sempre.



E assim passei

Entre os risos da festa

E a visão diabólica

Dos dentes azuis



Que me queriam morder



Para ver se ainda

Chegava a tempo.



E assim me acerquei

Do desvairado sorriso

Da traição;



O grande,

O interminável riso,



Sádico,



Lento, lento,

Tão lento,



Lento como uma tortura,

Como uma violação,



Enquanto a lâmina

Adquiria a têmpera



Preparada para atravessar

Todo o percurso

Dos meus versos:



Desde a primeira

Até à última estrofe;



Diria,

Desde antes da primeira sílaba

Até ao silêncio



Que demora



Após a última,



Enquanto as próprias nuvens roxas

Se escapam para o horizonte,

Apavoradas.




voj porto janeiro 2011

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