sábado, 3 de maio de 2008

processo de conhecimento





Como se desenha uma pessoa

neste abismo lácteo do écrã,
como se extrai de um vulcão aberto
a verdadeira e única possibilidade?

Um vulcão de lava láctea,
a única de onde pode sair um dia, no passado,
a configuração da pessoa brilhante?

Onde a lava é gema?!

O rosto. Como emerge de tantas geometrias?
a pessoa em si, pode ir-se para ela
como quem se dirige à gordura da onda,
de corpo desprevenido,
à parede caiada de fresco, e ainda ao seu pátio,
com a intenção amável do beijo?

Onde está o fundo deste leite
em que se mergulha, fundo, procurando
as suavidades mais fundas, as papilas subtis
que fazem emergir uma pessoa até ao texto?

Pátio. Sombra. Claustro púbere.
avé, aquele que vai dormir no teu seio
te saúda,

oh noite em que se mergulha
quando todas as palavras
retornam aos lábios, e estes de novo
ao mamilo, ao vulcão, à lava, de onde

um dia hás-de emergir,

para que eu possa finalmente acercar-me,

escrever-te.

Na parede láctea,
na parede onde se espelham
sombras de folhas harmoniosas,

aí,
com a força da chegada,
ornado de todas as plumas do passado:

inscrever-te.



voj 2008

foto: Matt Haber
fonte: http://www.matthaber.com/

4 comentários:

isabel mendes ferreira disse...

onde a lava é gema?


onde a lava é gema!!!!



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(Prof...que ...que...dizer?)
arre...
que belo tudo o que escreve!



abraço.

Vitor Oliveira Jorge disse...

Ser trado como professor paralisa-me... é como se a profissão se me tivesse colado à pele.
Que quererá dizer um texto? Costuma-se dizer que ele é que sabe. Mas os textos não me passsram procuração nem sequer para dizer isso.

Vitor Oliveira Jorge disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Vitor Oliveira Jorge disse...

Na anterior mensagem queria dizer, como se perceberá, ser tratado como professor. Obrigado pelo comentário, de qualquer modo.