quinta-feira, 8 de maio de 2008

O Neolítico e as fantasias das origens



O elemento fundador da sociedade ocidental, do ponto de vista da sua ontologia, vem da Grécia clássica e consiste em ter dividido as coisas humanas, o observador, das coisas naturais, aquele que é suposto explicar estas últimas, ou seja, domesticá-las, trazê-las para o lado da cultura.
Essa crença de que existe uma cultura e uma natureza, como realidades partidas embora articuladas fundamenta toda a nossa maneira de estar no mundo e de o explicar, mesmo quando percebemos a ilusão e queremos escapar-lhe: está impressa na própria moldura do nosso discurso.
Correlativas a esta crença são a ideia de origens e a ideia de primitivo, de homem primitivo, se quisermos. Encontrar as origens das coisas é, segundo a nossa fantasia, explicar e compreender a sua razão de ser. Por isso a nossa cultura se instala na ideia de história.
A história é a narrativa de como é que as coisas se tornaram no que são (ou imaginamos serem) hoje. Toda a história, por mais "científica" e "objectiva" (que as pessoas ligam a neutral) que se queira, é sempre uma justificação a posteriori.
Origens, narrativa histórica, e evolução estão pois interligadas ideologicamente.
A noção de um primitivo que era primeiro que tudo um ser natural e se foi tornando "progressivamente" um ser cultural é o "joelho" , a articulação conceptual, de todo este mecanismo explicativo. Não é apenas a ideologia do racismo e da xenofobia: é a ideologia ocidental no seu coração.
Nas origens havia a natureza e havia o homem primitivo, o homem da natureza, o que não fazia mais do que tomar da natureza o que esta lhe dava: o caçador-recolector e, para muitos, o predador, quer dizer, o que só consumia e não produzia (tudo ideias e conceitos que ressumam a ideologia justificativa da nossa própria sociedade).
A história (incluindo a pré-história) é a narração de como desse "éden" ou paraíso o ser humano se foi distanciando dos animais, da bondade natural (que podia incluir alguma rudeza - daqui a oscilação entre o mito do bom e do mau selvagem, duas faces da mesma moeda), de uma certa inocência, etc, e adquirindo a manha e a duplicidade do ser humano civilizado, o ser reflexivo e bipartido (no mínimo), e portanto necessariamente interessado e interesseiro, individualista, etc.
Só para se ter uma ideia da extensão e abrangência desta ideologia, veja-se as ideias de Zizek, nomeadamente sobre os mitos de origens, tal como são resumidas na entrada relativa ao autor (por Matthew Sharpe) da The Internet Encyclopedia of Philosophy, que me permito citar abaixo.
Ver:
http://www.iep.utm.edu/z/zizek.htm
"Fantasy as the Fantasy of Origins
In a way that has drawn some critics (Bellamy, Sharpe) to question how finally political Zizek’s political philosophy is, Zizek’s critique of ideology ultimately turns on a set of fundamental ontological propositions about the necessary limitations of any linguistic or symbolic system. These propositions concern the widely known paradoxes that bedevil any attempt by a semantic system to explain its own limits, and/or how it came into being. If what preceded the system was radically different from what subsequently emerged, how could the system have emerged from it, and how can the system come to terms with it at all? If we name the limits of what the system can understand, don’t we, in that very gesture, presuppose some knowledge of what is beyond these limits, if only enough to say what the system is not? The only manner in which we can explain the origin of language is within language, Zizek notes in "For They Know Not What They Do". Yet we hence presuppose, again in the very act of the explanation, the very thing we were hoping to explain. Similarly, to take the example from political philosophy of Hobbes’ explanation of the origin of sociopolitical order the only way we can explain the origin of the social contract is by presupposing that Hobbes’ wholly presocial men nevertheless possessed in some way the very social abilities to communicate and make pacts that Hobbes’ position is supposed to explain.
For Zizek, fantasy as such is always fundamentally the fantasy of (one’s) origins. In Freud’s “Wolfman” case, to cite the psychoanalytic example Zizek cites in "For They Know Not What They Do", the primal scene of parental coitus is the Wolfman’s attempt to come to terms with his own origin – or to answer the infant’s perennial question “where did I come from?” The problem here is this: who could the spectacle of this primal scene have been staged for or seen by, if it really transpired before the genesis of the subject that it would explain? (...) The only answer is that the Wolfman has imaginatively transposed himself back into the primal scene if only as an impassive object gaze – whose historical occurrence he had yet hoped would explain his origin as an individual.
Zizek’s argument is that, in the same way, political or ideological systems cannot and do not avoid deep inconsistencies. No less than Machiavelli, Zizek is acutely aware that the act that founds a body of Law is never itself legal, according to the very order of Law it sets in place. He cites Bertold Brecht, “what is the robbing of a bank, compared to the founding of a bank?” What fantasy does, in this register, is to try to historically renarrativise the founding political act as if it were or had been legal – an impossible application of the Law before the Law had itself come into being. No less than the Wolfman’s false transposition of himself back into the primal scene that was to explain his origin, Zizek argues that the attempt of any political regime to explain its own origins in a political myth that denies the fundamental, extralegal violence of these origins is fundamentally false. (Zizek uses the example of the liberal myth of primitive accumulation to illustrate his position in "For They Know Not What They Do", but we could cite here Plato’s myth of the reversed cosmos in the Laws and Statesman, or historical cases like the idea of terra nullius in colonial Australia). "
Os sublinhados a azul são meus.
Quer dizer, a explicação das origens, naturalizando-as, é sempre um écrã para disfarçar a ideia de que tais origens nunca existiram (nem num determinado momento nem de forma paulatina), ou seja, são uma fantasia de uma ontologia que julga poder, de dentro de si mesma e do discurso que utiliza, explicar a sua exterioridade.
Deram-se sim, talvez, cadeias complexas de acontecimentos que marcaram rupturas a diversíssimas escalas não coincidentes em tempo e espaço, instalações de ordenamentos e de contra-ordenamentos, isto é, políticas, e que tais políticas, tais confrontações e tais tensões pressupunham desequilíbrios, outras formas de ruptura, sempre "anteriores" e tão diversificadas que não tem sentido tentar colocá-las numa ordem temporal linear e inteligível (única ou múltipla, são variantes do mesmo). Não tem sentido pensá-las nesse quadro conceptual. A história é sempre uma ficção, mesmo que seja uma ficção necessária à nossa "paz de espírito" e à nossa explicação do mundo em termos de imaginação do antecedente, em termos de o pensarmos como algo que ultrapassa a sensação absurda de ele poder ter existido antes da consciência de cada um, que o pensa.

O "Neolítico" é a fantasia da origem da sociedade humana, da passagem de um regime de predação e recolha para um regime de produção e de acumulação, quer dizer, de um sistema de indiferenciação para um sistema de diferenciação. É o começo da história, como o francês Jean Guilaine não deixou de insistir em todos os seus livros.
De certo modo, ao domesticar a natureza, os animais, as plantas, ao começar a produzir, a trabalhar, a acumular riqueza, a conseguir excedentes e a poder dar-se ao luxo de fazer grandes obras e de desenvolver uma ordem e uma hierarquia, o homem distanciou-se do animal. Era o que já diziam os antigos gregos, mas o que também vem na nossa tradição bíblica anterior. De facto, a humanidade, ao tornar-se tal, quer dizer, ao entrar na ordem do chamado "simbólico" (outro conceito a discutir), e portanto dominar a linguagem, ficou também cindida como conta outro mito, o mito de Babel ou da diversidade das línguas.
A linguagem uniu, permitiu sociabilidades, mas dividiu igualmente, e de maneira radical, ao separar os sentidos e ao exigir a tradução. O conceito de tradução é outro ponto fundamental da nossa cultura.
No fundo o "homem civilizado" o que faz é traduzir, traduzir em seu proveito próprio. Traduzir materiais e em geral as realidades da dita natureza em matéria-prima e obra, traduzir espécies selvagens em espécies produtivas, traduzir as igualdades naturais em desigualdades naturalizadas, isto é, aceites como indiscutíveis, traduzir o território em paisagem, traduzir o meio em natureza que ele controla, traduzir a língua do outro em linguagem inteligível, quer dizer, compreensível e domesticável,
traduzir em suma tudo o que era dado, em sinais do que é preciso domar, domesticar. Traduzir finalmente excedentes do grupo em mais-valias de uma elite.
E assim se explica a necessidade da divisão das pessoas em categorias e mais tarde em classes, em incluídos e excluídos, enfim, a heterogeneidade social em termos de hierarquização e de diferenciação funcional. Guilaine tinha razão em dizer que esta é a origem da história: para a nossa ontologia, sem "neolítico" não teria havido acontecimentos, mas apenas natureza, repetição do mesmo ou cadência tão lenta que se não nota a uma escala humana. Portanto, não teria havido propriamente homem (ser humano) como tal.

Não há filosofia, até hoje, que eu conheça - e conheço pouco, ai de mim - que não se reporte mais cedo ou mais tarde a uma espécie de "caixa negra", de um embraiador do que somos. E essa caixa negra, esse embraiador, é a natureza e o homem primitivo vivendo nela.
Se quisermos sobreviver neste mundo terrestre teremos provavelmente que construir uma outra filosofia da natureza e da nossa relação com ela. Teremos que abandonar a mitologia do "neolítico" e toda a sua panóplia de míticas invenções técnicas e mutações epistemológicas.
O Neolítico nunca existiu a não ser na invenção do evolucionismo do séc. XIX, de que estamos eivados, até hoje. É uma fantasia da origem da cultura e da civilização moderna, ocidental e europeia, que depois aliás se tentou aplicar a outros continentes com manifesto mal-estar ou mesmo impossibilidade. Em muitos pontos do mundo (África subsariana, Américas, etc), nem mesmo a imaginação evolucionista utiliza a palavra "Neolítico". O Neolítico é uma narração bíblica, com a sua matriz no Próximo Oriente (terra de origem dos monoteísmos históricos). Ponto.
O processo de relação dos seres humanos com as plantas, com os animais, com seres vivos ou inanimados, com a matéria inerte, esse processo (ou multiplicidade infinda de processos) deve ser descartado das ideias feitas sobre domesticação.
A domesticação é um conceito latino que vem de "domus", casa, como mostrou Philippe Descola e pressupõe uma diferença entre "home" (lar, o espaço doméstico, as zonas envolventes que o ser humano "controla", e não apenas "house" como um lugar de funções) e "wild", algo que o ser humano teme e onde faz incursões, algo que está povoado de perigos e de seres estruturalmente, ontologicamente diferentes de nós.

Ora, os estudos de etologia, de ecologia, de antropologia têm vindo a desmentir essas barreiras e a mostrar o carácter etnocêntrico dessas classificações e conceptualizações. Mas mesmo tentando ultrapassá-las, a matriz do nosso raciocínio continua a ser a mesma: estamos por assim dizer gramaticalizados (como diria Bernard Stiegler) deste modo, e não é a imaginação crítica do pensamento individual que pode sair da matriz que o informa. Só o esforço colectivo de desmistificação, de desvendamento das fantasias. Daí a importância da matriz psicanalítica, na sua vertente verdadeiramente subversiva, isto é, como ferramenta de abertura a novas possíveis formas de "gramaticalização".

Ainda recentemente uns colegas gentilmente me convidaram para participar num grande livro sobre o Neolítico da Europa.
Qual não foi o seu espanto quando lhes disse: percebo por que se aventuram a tal projecto, que é de grande prestígio, e que é fulcral para consolidar a ideia de que existe uma Europa, uma cultura europeia, e que essa cultura e unidade (na heterogeneidade) mergulha as suas próprias raízes na água das origens.
Mas eu não acredito já nisso. E por isso não posso participar, enchendo mapas e tabelas cronológicas com artefactos, tipos de sociedade e outros construtos do meu espírito, e enfaixando tudo numa narrativa do devir, mais ou menos verosímil.
Cansei-me de contar histórias, ou então anseio por novas fantasias.


________
Dedico este texto, escrito num rompante, ao Sérgio Rodrigues e à Joana Alves, ambos doutorandos (embora em estádios muito diferentes, um a rematar, a outra em percurso) sobre "Neolítico", da FLUP.
________
Foto: Ernesto Timor
Fonte: http://www.ernestotimor.com/pages/
_01_unfixed00.html



6 comentários:

Caturo disse...

Pois. Agora falta mostrar em concreto onde está a alegada falsidade do Neolítico, e, mais importante, como é que se nega que a Europa é diferente das outras culturas.

Caturo disse...

Agora falta mostrar, em concreto, porque é que o Neolítico é uma fantasia e porque é que não existe uma cultura europeia...
Aguardo.

Vitor Oliveira Jorge disse...

O Neolítico não é verdadeiro nem falso, é apenas um conceito historicamente situado. A Europa, por seu turno, é uma realidade política e cultural também em constante mutação, como qualquer outra. Uma pessoa escreve para expor o seu ponto de vista, e apenas esse, por um lado; e por outro,é mais fácil acreditar em conceitos correntes e ideias óbvias. A tarefa do investigador é desmistificar ideias feitas, foi assim que sempre avançámos no conhecimento. Mas devemos respeitar a variedade de ideias dos outros...não é? Até porque há multímodas formas de pensar...Eu só exponho a minha, não sou emissor de verdades, e agradeço comentários substanciais que me mostrem outras "verdades" alternativas... estou sempre a aguardar esses contributos, pois estou sempre numa atitude de aprendizagem, embora o estilo de um blogue, por ser curto, possa dar uma impressão mais assertiva, aqui ou ali.

Gonçalo Leite Velho disse...

Recomendação porque vai bem com a fantasia do Neolítico:

Kuper, Adam (1988) The Invention of Primitive Society: Transformations of an Illusion. London:Routledge


http://books.google.com/books?id=FLwNAAAAQAAJ&pg=PP1&dq=Kuper+The+Invention+of+primitive&ei=Z0AnSLn0Eqe-ygTrz-iPCw&hl=pt-PT&sig=r3kZTQgyFhI0Ubmgvwej3nOl9gE

Vitor Oliveira Jorge disse...

Um amigo meu comentou assim. A seguir vem a minha resposta.
Comentário:
"O texto é de facto muito útil para nos colocar a pensar. Concordo com a superfície do texto (a recusa de uma noção simplista e "arrumada" da evolução, a noção de que as classifcações são construções analíticas e não realidades em si, a compreensão de que a noção de ruptura neolítica é um logro etnocêntrico). Mas não sei se, nas águas profundas, estamos nas mesmas correntes. Eu acho que há uma evolução, acho que há descontinuidades, e acho que há escalas em que a ciência positiva funciona bem e é, mesmo, indispensável. Não tenho nenhuma ideia idealista do passado (deve ter sido horrível ser senhor feudal, ou andar por aí a caçar e a ser caçado, como na maior parte da nossa história - se bem que de alguma forma ainda andemos, hoje mais como caça do que como caçadores!). Constato que hoje vivem mais seres humanos, e sei que em diversas ocasiões no passado houve graves extinções de espécies (a famosa biodiversidade). Estou seguro de que os primeiros agricultores deram cabo, lenta mas determinadamente, da floresta, e de que não tinham princípios ecologistas (senão não estávamos agora para aqui a escrever, provavelmente). Penso que, desde que se perceba que as classes são instrumentos de análise e interpretação, e não a realidade, são úteis (e nesse sentido "há Neolítico" - conceito que, no entanto, mascara hoje mais do que explica) e acho que há Europa porque há quem acredita nela (e por isso há um Neolítico europeu, que obviamente não pode ser explicado sem começar por sublinhar que a Europa é um continente que não existe, e que os Urais não são nenhuma barreira intransponível - também a Europa é uma noção cultural actual, mas não deixa de ser operacionalmemente útil, em certas escalas). E acredito que houve um passado e haverá um futuro, embora não saiba por quanto tempo.
Se eu vivesse no Porto, teria a felicidade de poder conversar destas coisas contigo (mas ficaria infeliz com a falta da luz de Lisboa - a vida tem destas contradições).
Um abraço, e obrigado por me fazeres pensar de manhã"
_______________________________
Resposta:

Agradeço o teu comentário. Nota que eu também não pretendo enunciar qualquer “verdade positiva”, mas tão só abrir campo para a diversidade do que é útil – útil é no teu comentário uma palavra importante. Sempre em cada época se pensou, e os conceitos que herdámos foram úteis no seu tempo. O que eu estou a perguntar é se eles hoje, em vez de serem assim tão úteis, não bloqueiam o desenvolvimento dos saberes...e, colocando-os eu como fantasias, estou a dizer que eles vêm na sequência de antiquíssimos mitos, que o que nós fazemos é glosar mitos, que os mitos têm uma persistência tremenda. Claro que é difícil senão impossível pensar sem o que chamas classes, ou seja, sem um pensamento classificatório... Ou será possível forjar conceitos fora dele, pelo menos daquele que nos ensinaram, que nos fizeram deglutir (primeiro às colheradas como aos bébés, depois já com nós próprios a levar à boca o modo de absorver, de incorporar que acabámos ilusoriamente por pensar que era o nosso)? Talvez seja, temos de acreditar que sim, que não foi vã a nossa passagem pela arqueologia...como podia ter sido em qualquer outro campo.
O que estou a tentar ir é à minha pré-história e a pensar por que é que terei começado a pensar assim e não de outro modo. Como aquele viajante que vai num comboio para onde entrou a correr, com ele quase em movimento, e de repente pergunta a quem vai ao pé, para se certificar, “mas para onde vai este comboio?”; “será o melhor comboio para o meu destino?”; “de que estação partiu e para que estação se dirige?”; “em que apeadeiro devo sair?” , etc. E constata para sua surpresa que ninguém está bem certo, ou que cada um tem a sua resposta,e se pergunta num assombro se não teria sido melhor estar com calma na estação e pensar outras alternativas de viagem...
Claro que Neolítico e então Europa estão na boca e no pensamento de milhões de pessoas. Claro que são realidades tão abstractas que nenhuma pode responder-me se existe(iu) ou não. Claro que são construções convencionadas. O que eu estou a perguntar – a afirmar, diria – é se OUTRAS CONSTRUÇÕES POR FAZER não nos seriam mais úteis. Creio que seriam, sinto, intuo que seriam. Sem delirar, penso que foi sempre assim que o pensamento e experiência foram decorrendo: pela suspeita, ou intuição, de que algo não batia certo, pelo cansaço de repetir sempre o mesmo, da mesma maneira, o que até é “contra natura”, uma vez que a mesma repetição provoca diferença, como diria o Deleuze. Mas a repetição mecânica é extremamente constrangedora.


Abraço
Vitor

Gonçalo Leite Velho disse...

Conhecer a Europa é conhecer pessoas como Clement Attlee, Konrad Adeneaur, Willy Brant, Jean Monnet. É perceber que a Europa é uma construção do pós-guerra, que surge como resposta à II Guerra Mundial e de modo a que nunca mais aconteçam as atrocidades que o continente sofreu. Por essa mesma razão é uma aposta num Estado Social que permite que todos possam ter as sua oportunidade e possam viver com o mínimo de dignidade, de modo a que a violência, a xenofobia e outros fenómenos não ganhem espaço no terreno da insatisfação social.
Se é certo que "em casa onde não há pão todos ralham e ninguém tem razão", a Europa é justamente o espaço pensado numa lógica em que todos possam ter pão e assim possam discutir com razão.
A Europa dos valores levanta-se assim com um espaço diferente, através da sua tradição de cultural humanista. Se essas razões remontam ao Neolítico... talvez seja um "bocadinho" forçado.