sexta-feira, 9 de maio de 2008

candeeiros 1





estou à porta.
entre dois negrumes.

onde aparece o alce,
o grande alce fitando-me
fixamente.

estou na porta,
despedindo-me de ti,
que convocaste
o fundo da casa,
a sua escuridão, o
desaparecimento.

tenho no ombro o falcão
que te olha fixamente
e te diz:
não tenhas medo do umbral.

é verdade que a rua está fria,
cheia de folhas frias,
esticadas no chão.

mas a nós vale-nos a cegueira,
apenas sentimos a translação
das pequenas coisas

e eu tenho ainda a tua mão na minha,
a tua mão dorida.

acende o candeeiro
sobre o alce negro:
transforma a sua cabeça
num enorme candelabro.

traz o falcão até ao umbral:
ele não pode ver a luz,
as penas são prateadas e aquecem
demasiadamente.

vê como os choupos se erguem
por força de uma frase
como se o que contraria a gravidade
fosse um só gesto

o teu olhar está comigo
dois círios, dois olhos:

os olhos amarelos da noite
negra, negra, de ambos os lados.

que significa
este som?
é a música que criam as frestas,
os passos do alce,
o ajustamento das penas
sobre o meu ombro,
a sua prata?


voj 2008
Foto: Martin Junius
Fonte: http://photo.m-j-s.net/

Sem comentários: