Transferência "(...) A PSICANÁLISE INVENTOU DE FACTO UMA NOVA FORMA DE AMOR CHAMADA TRANSFERÊNCIA." JACQUES-ALAIN MILLER (Lacan Dot Com)
sexta-feira, 9 de maio de 2008
candeeiros 1
estou à porta.
entre dois negrumes.
onde aparece o alce,
o grande alce fitando-me
fixamente.
estou na porta,
despedindo-me de ti,
que convocaste
o fundo da casa,
a sua escuridão, o
desaparecimento.
tenho no ombro o falcão
que te olha fixamente
e te diz:
não tenhas medo do umbral.
é verdade que a rua está fria,
cheia de folhas frias,
esticadas no chão.
mas a nós vale-nos a cegueira,
apenas sentimos a translação
das pequenas coisas
e eu tenho ainda a tua mão na minha,
a tua mão dorida.
acende o candeeiro
sobre o alce negro:
transforma a sua cabeça
num enorme candelabro.
traz o falcão até ao umbral:
ele não pode ver a luz,
as penas são prateadas e aquecem
demasiadamente.
vê como os choupos se erguem
por força de uma frase
como se o que contraria a gravidade
fosse um só gesto
o teu olhar está comigo
dois círios, dois olhos:
os olhos amarelos da noite
negra, negra, de ambos os lados.
que significa
este som?
é a música que criam as frestas,
os passos do alce,
o ajustamento das penas
sobre o meu ombro,
a sua prata?
voj 2008
Foto: Martin Junius
Fonte: http://photo.m-j-s.net/
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