terça-feira, 18 de setembro de 2012

Eficiência simbólica



Uma preocupação constante em Zizek é a da "tradução" das culturas, a erudita e a popular (para simplificarmos as coisas). Ele quer mesmo fazer-se entender pelo maior número de pessoas possível, e daí o seu constante aparecimento nos media/intervenções públicas (claro que como motivação o seu narcisismo está presente também).
Uma anedota que conta com frequência para tentar tornar claro aquilo que 

implica um pino mental (toda a sua obra, baseando-se na psicanálise lacaniana e em Hegel é isso mesmo, um pino mental, articulando a dialéctica com as descobertas da psicanálise tal como Lacan a ergueu a um conhecimento verdadeiramente filosófico, voltando a pôr Freud no centro da cultura contemporânea), é a seguinte, a propósito da chamada "eficiência simbólica", ou seja, de como algo que está para além da "racionalidade de todos os dias" e que estrutura a ordem simbólica, funciona (a eficiência simbólica tem a ver com o desfasamento entre a identidade factual, empírica por assim dizer, de um indivíduo, e a sua identidade simbólica, ou seja, a forma como se projecta no Outro, na Autoridade simbólica... a pessoa, em muitas coisas que fez e rituais "vazios" (não são tão vazios assim, porque imensamente eficazes na obturação do Vazio) a que se presta, diz: "acreditar, não acredita", mas... sempre acaba por REPETITIVAMENTE, COMPULSIVAMENTE proceder como se acreditasse, e assim sustém, alimenta e alimenta-se dessa Autoridade).

Havia um louco que julgava ser um grão de milho. Após internamento, foi considerado curado, teve alta do asilo, mas eis que, tendo visto uma galinha pelo caminho, voltou logo ao asilo em pânico. O médico perguntou-lhe então qual a razão de ser do seu pânico, uma vez que agora tinha voltado à normalidade, que sabia perfeitamente que era uma pessoa, e não um grão de milho que podia ser comido pela galinha. O louco respondeu então que sabia muito bem que não era um grão de milho, mas seria que a galinha o sabia??

Eis como uma simples galinha pode ter tanto poder, o de representar a Ordem Simbólica.















Ver por exemplo "O Sujeito Incómodo", Lisboa, Relógio d'Água, 2009, pp. 424-325

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