Há um excesso no idealismo alemão, que escapa à definição, que parece estar numa outra Ordem. Uma espécie de assombro, de sublime. Há nesse excesso uma chave para poder compreender a questão da ideologia, no seu arrebatamento, na sua mobilização. Era importante compreender melhor esta questão. Compreender o idealismo alemão é ajudar a compreender as "paisagens culturais" de Ratzel, a "arqueologia do povoamento" de Kossina. A questão do sangue e da terra, a ideia dos povos que ainda mobiliza, impregnada como está numa espécie de senso-comum contemporâneo. E posto este excesso existe como que um trauma, uma ausência, uma fuga, do político, do ideológico, que a sociedade do mercado veio cobrir. Na Alemanha ela assume a forma de tipologias, cronologias, metodologias várias que ajudam a cobrir a ferida através da ideia de que o científico é "apolítico". Há como que um caminho para o subterrâneo, para o inconsciente. É lá que habita a raiz para essa espécie de senso-comum que ainda alimenta os resquícios do nacionalismo romântico. O desejo deu lugar à pulsão (ou será que era esta que esteve sempre presente, desde o primeiro momento, como motor do excesso). Resulta assim uma fúria catalogadora a que nada escapa, mas onde ainda dormem os germânicos, os celtas. O fantasma está lá, como que assumindo a forma daquele monstro mítico que dorme debaixo da terra. Assim que se escava tememos libertá-lo novamente. Só há um modo para podermos superá-lo: perceber que ele é o Outro (o grande Outro). Ele não existe senão para além de nós, no descentramento da nossa mente. É tempo de conseguirmos olhar para debaixo da cama e enfrentar o nada que ali existe. O Deserto do Real.
Obrigado pelas suas palavras. Por mim sinto-me ainda a entrar em tantas coisas novas... uma pessoa, quando há dias em que pode ler algo (em que não o interrompem tanto) abeira-se do deserto (ou do abismo) da sua ignorância. Dá vontade de continuar até as forças se extinguirem e finalmente descansar da vida, deste rádio que não tem botão de desligar. E no entanto (miragem?) alguns contornos começam a discernir-se. E nalguns textos, no meu caso poético, parece que vejo alguma coisa. No resto sou míope, ou cego, ou grande ciclope a quem vazaram a vista. Atarantado no meio da vida.
2 comentários:
Há um excesso no idealismo alemão, que escapa à definição, que parece estar numa outra Ordem. Uma espécie de assombro, de sublime. Há nesse excesso uma chave para poder compreender a questão da ideologia, no seu arrebatamento, na sua mobilização.
Era importante compreender melhor esta questão.
Compreender o idealismo alemão é ajudar a compreender as "paisagens culturais" de Ratzel, a "arqueologia do povoamento" de Kossina. A questão do sangue e da terra, a ideia dos povos que ainda mobiliza, impregnada como está numa espécie de senso-comum contemporâneo.
E posto este excesso existe como que um trauma, uma ausência, uma fuga, do político, do ideológico, que a sociedade do mercado veio cobrir.
Na Alemanha ela assume a forma de tipologias, cronologias, metodologias várias que ajudam a cobrir a ferida através da ideia de que o científico é "apolítico". Há como que um caminho para o subterrâneo, para o inconsciente. É lá que habita a raiz para essa espécie de senso-comum que ainda alimenta os resquícios do nacionalismo romântico. O desejo deu lugar à pulsão (ou será que era esta que esteve sempre presente, desde o primeiro momento, como motor do excesso).
Resulta assim uma fúria catalogadora a que nada escapa, mas onde ainda dormem os germânicos, os celtas. O fantasma está lá, como que assumindo a forma daquele monstro mítico que dorme debaixo da terra. Assim que se escava tememos libertá-lo novamente. Só há um modo para podermos superá-lo: perceber que ele é o Outro (o grande Outro). Ele não existe senão para além de nós, no descentramento da nossa mente.
É tempo de conseguirmos olhar para debaixo da cama e enfrentar o nada que ali existe. O Deserto do Real.
Obrigado pelas suas palavras. Por mim sinto-me ainda a entrar em tantas coisas novas... uma pessoa, quando há dias em que pode ler algo (em que não o interrompem tanto) abeira-se do deserto (ou do abismo) da sua ignorância. Dá vontade de continuar até as forças se extinguirem e finalmente descansar da vida, deste rádio que não tem botão de desligar. E no entanto (miragem?) alguns contornos começam a discernir-se. E nalguns textos, no meu caso poético, parece que vejo alguma coisa. No resto sou míope, ou cego, ou grande ciclope a quem vazaram a vista. Atarantado no meio da vida.
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