quinta-feira, 22 de maio de 2008

por isso



Quem se importa?
Olha uma paisagem
Desde cima do vento:
Que murmúrio ouves?
Não falo do correr da água,
Do piar dos pássaros,
Nem mesmo do ruído silencioso
(Desse lugar onde ruído e silêncio
Se confundem)
Que sobe das terras habitadas.
Falo de dentro do sangue
Do meu coração.
Quem se importa?
A companheira antiga?
As múltiplas memórias aculumadas?
Os livros escritos,
As esperanças depositadas?
Quem se importa com o assombroso,
O que está para lá do amor ou do terror,
E cujo nome não é nome,
Porque é impossível nomeá-lo?
Existe esse espaço?
Antes de morrer, terei direito
A contemplá-lo?
Não, decerto, nem mesmo as árvores
Descontroladas nos seus ramos
Conhecem o verdadeiro murmúrio,
O murmúrio do princípio,
O que sempre convocamos,
Esperamos,
Na mais terrível das expectativas,
Porque se sabe sem possibilidade de aspirar
A ser.
Por isso te convidei para o encontro impossível,
Porque de facto me importava.


texto e foto (pisa junto ao arno, 10.2.08) voj

4 comentários:

isabel mendes ferreira disse...

belíssimo "encontro" este!.




bom rever o arno.


abraço. Prof.

Vitor Oliveira Jorge disse...

Apenas deitei ao Arno mais um dos milhares de poemas que outros desde há séculos lhe deitaram... mas confesso que escrevi o texto antes de o associar à imagem: foram duas etapas. Tenho muito medo das imagens, arrastam-nos, como os rios, e às tantas estamos só a legendá-las.

isabel mendes ferreira disse...

:) mas quando as legenda acrescenta-lhes um certo pó de oiro.....


peculiar e particular.
:)

Vitor Oliveira Jorge disse...

Grazie. Ai que pena que eu tenho de não saber italiano, latim, alemão, para escrever nessas línguas!