terça-feira, 13 de maio de 2008

leituras e explicações



Ultimamente tenho tentado dedicar-me a leituras um pouco mais extensas e a estudos em campos novos para mim, mas que sempre desejei fazer. Por outro lado, as pessoas mais interessantes no meu próprio campo ou em domínios afins apresentam perspectivas e visões inesperadas, que uma pessoa tenta comunicar a outras.
E essas outras, mergulhadas na pressa que a todos nos "aliena" de nós próprios, pedem, quando eu estou a ser mais longo: "resume a argumentação mais sucintamente, vai directo ao assunto". Por vezes têm razão: não tendo senão ainda percebido a configuração geral do argumento, eu ando às voltas, impressionisticamente, para tentar cingi-lo, sem o conseguir verdadeiramente. Mas isto de explicar algo de forma rigorosa e concisa, sem ser redutor, é o mais difícil que há - todavia, as pessoas pedem-nos sempre o mais difícil. Por vezes, preguiçosamente, ou comodisticamente, não querem perder muito tempo, e ainda nos exigem a nós, que o "perdemos", que sejamos breves. É a injustiça da vida.
Mas há um ponto mais interessante.
É que há argumentações, ou ideias, que se forem menos bem resumidas se tornam outras. É a própria maneira de as enunciar, sem dúvida por vezes ainda titubeante, ou já mais afirmativa, o que as ideias são, e não items codificados de uma lista, ou de um diconário, de um índice.
Quer dizer, o modo como uma coisa se expõe, se dispõe, é a própria coisa, daquele ponto de vista. Dizê-la tipo telegrama, e-mail rápido, ou sms, é dizer já OUTRA COISA. Como é óbvio.
Por isso as pessoas pedem-nos não as coisas que pensámos ou sentimos, mas traduções rápidas, para a linguagem da pressa, daquilo que vive noutra temporalidade, respira outro ritmo, só se pode pensar, sentir, dizer ou transmitir com tempo.
É nesse mundo oblíquo, dos desentendimentos, que vivemos todos, sob a violência da pressa, atamancando ideias ou pseudo-ideias, deformações, ilusões, numa correria tonta. Desejando a maior parte das vezes ser tontos, sem tempo para o que interessaria.
Mas não gostamos que ninguém nos interpele, dizendo assim: "não seja tonto(a), ouça-me com calma."
Os egos apressados são também egos muito sensíveis. Vivem no fio da navalha das sensibilidades, dos sentimentalismos. Das sensações instantâneas, sem recuo ou distância, precisamente, para escutar. Com calma e tempo.



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